Todos os indivíduos que lidam com crianças, devem ter consciência que as impressões por eles passadas, vão interferir para sempre na formação da personalidade delas.
Ao receber o convite para publicar um artigo, pensei qual seria o assunto mais adequado para a primeira matéria. Acreditando que as fases iniciais da vida de um ser humano são decisivas para o desenvolvimento adequado de sua personalidade, optei por um assunto que nos fizesse refletir sobre a influência que a Educação Infantil exerce no futuro de uma criança, mais exatamente numa visão de TRABALHO que essa criança virá a desempenhar em sua vida adulta.
Todos os indivíduos que lidam com crianças, devem ter consciência que as impressões por eles passadas, vão interferir para sempre na formação da personalidade delas.
É preciso saber orientar nossas crianças, hoje mais do que nunca. Dar liberdade para a criança mas também estabelecer limites, para que quando chegue a vida adulta possa ter firmeza em suas escolhas, sem perder-se no meio do caminho. Caminho este, que convenhamos, não é tão simples quanto parece quando se é criança. É necessário, que aproveitemos bem o tempo, formando futuros cidadãos, sem complexos herdados de uma sociedade preconceituosa.
Estimular a criança, por exemplo, a entender o trabalho como fonte de satisfação e respeito deve começar bem cedo. Não basta apenas dar explicações a ela, pois os valores são transmitidos pelos pais e por todas as pessoas que participam ativamente da fase de desenvolvimento da criança, através de modelos. Os adultos nada mais são do que modelos para a criança. Pessoas nas quais ela deposita confiança, respeito e admiração.
E quando essa criança inicia seu processo de fala e mostra progressos motores, normalmente tende a ser colaboradora em casa. Vê na participação dos afazeres domésticos a chance de imitar o trabalho dos pais. E o que muitos de nós fazemos quando isso ocorre? Não permitimos que a criança participe das nossas tarefas por conveniência, porque sabe-se que aquela pessoa tão pequena acabará por fazer alguma sujeira, o que nos dará trabalho em dobro, ou porque os pais são tão superprotetores que vêem essa participação como algo perigoso, ou ainda, analisando de forma preconceituosa, os pais entendem determinada tarefa como sendo de pouca importância para que o filho cumpra, muitas vezes mostrando-se machistas quando proíbem tarefas que consideram somente para um determinado sexo. Mas o que não compreende-se por parte dos adultos é que a criança não está "brincando" de ajudar. Ela está de fato – e se sente muito importante por isso – trabalhando.
Um descaso a este aspecto pode ser muito prejudicial à auto-estima infantil e à comunicação com a criança. Enquanto ela pensa "quero imitar você", nós entendemos "quero brincar com isso". Pelo fato de vermos nesta ajuda somente uma brincadeira, não devolvemos em paciência o que a criança oferece como treino para a independência.
Alguns pais devem estar se perguntando: “mas não é muito perigoso deixar meu filho ajudar nas tarefas domésticas?” Então eu respondo: não! Desde que, obviamente, criem condições para que a criança trabalhe com segurança, o que, aliás, vale para qualquer trabalhador, de qualquer categoria ou idade. No entanto, se acontecer de a criança quebrar um copo, devemos lembrar quantas vezes nossas visitas (algumas não tão agradáveis) já quebraram um copo em nossa casa. Não é verdade que mesmo com essas pessoas, por menos desejáveis que fossem, vocês foram amáveis e sorridentes, dizendo “não foi nada”? Então sejamos mais tolerantes com aqueles seres pequeninos que nos são tão queridos e estão simplesmente nos pedindo um pouco mais de oportunidade e tolerância.
A criança pode (e deve!) ser incentivada a ver o trabalho como fonte de bem-estar, mas para isso vale o bom senso. Colocando na balança, de um lado, a lenta construção de uma imagem do trabalho como sendo prazeroso e, de outro, alguma bagunça que possa surgir quando a criança trabalha, não se torna difícil perceber o que é realmente importante.
KARINA KASPER
PEDAGOGA- EDUCAÇÃO INFANTIL