As Festividades do Corpo de Deus

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A luta entre a mente e o corpo tem sido sempre uma constante com o desenrolar dos séculos. A mente grita mas o corpo fala mais alto. É nesta dualidade que reside o Feriado do Corpo de Deus.

Desde sempre o Homem se viu confrontado com a realidade entre o certo e o errado: aquilo que era permitido ou não fazer, aquilo que os limites das normas da religião possibilitavam. A religião sempre foi muito rígida nos assuntos da carne e do corpo, desde os tempos em que se constatou o amor e pecado de Adão e Eva.

O feriado do Corpo de Deus apela não só para uma festa profana como também religiosa, misturando o sagrado com o popular. Aliás, as pessoas sempre fizeram desta data um momento para relembrar o Cristianismo, especialmente com a ida em massa à missa, bem como o impregnaram de laços populares. Ainda que o Homem seja, por natureza, um ser concebido para viver em comunhão e idealizado para servir a Deus, nem sempre esta realidade se verifica.

Neste Feriado, dia 22 de Junho, invocam-se os ditos sagrados de Jesus, quando na última ceia afirmou que: "Tomai e Comei, isto é o meu Corpo. Tomai e Bebei isto é o Cálice do meu Sangue". Por cauda da simbologia de tais palavras se fala de sangue, corpo, alma e divindade de Jesus Cristo. Jesus é, por isso, a incorporação da natureza humana e divina, na qual esta última se sobrepõe à condição humana.

Em Portugal, as tradições comemorativas do Corpo de Deus são várias, mas todas elas apelam para um sentido sagrado e profano. Profano, na medida em que é habitual o desfile de cabeçudos, andores, danças, folias e alegorias em muitos pontos do país. A população entra na festa cristã, e é habitual a exibição de imagens de santos, o destaque para crenças ou mitos, enaltecendo a cultura e fé cristã.

A Festa do Corpo de Deus é também conhecida em alguns locais como a Festa da Coca. Na zona de Monção é frequente assistir-se à Eucaristia, e em seguida decorre a procissão liderada por S. Jorge, pelo Coca e pelo Carro de Ervas. Na parte final da referida procissão desfilam 33 cruzes, representando cada cruz uma freguesia, e mesmo na recta final situa-se a banda da música.

Segundo a tradição da Festa do Corpo de Deus, S. Jorge é o cavaleiro valente, possuidor de uma espada e representativo do Bem, enquanto que o Coca é o dragão invocando o Mal. Ambos terão que se defrontar mais tarde, ainda que a vitória seja sempre incerta. A vitória só toca S. Jorge se este conseguir tirar e cortar um brinco, bem como retirar uma orelha ao dragão.

Em Monção a festa prossegue, após o confronto, com folclore, concertos, animação, o típico cortejo das "coquinhas"e o não menos tradiconal fogo de artifício. Assim, e a partir da enlace entre o popular e o cristianismo, é realizada a devida junção entre o âmbito humano e o divino. Corpo e alma apelam para uma única realidade, não podendo ser separados para hipotéticas combinações de interesses.

Este é o feriado dos crentes e dos não crentes, dos religiosos e dos ateus, porque de uma maneira ou de outra todos acabam por participar neste dia invocativo de religiosidade. Isto porque, todos partem de uma mesma origem à qual ninguém pode fugir. Da cultura religiosa para a popular, o culto do corpo sacrificado do Senhor desce dos céus até às ruas de Portugal.

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