Crónica: Um país a cair aos pedaços

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Caiem prédios, pontes, estradas. Que mais nos irá acontecer? Estamos num país a cair aos pedaços.

Se no tempo do Marquês de Pombal o país sofreu um rude golpe com o terramoto, Lisboa pôde colocar as mãos ao alto por ter alguém que do nada reconstrui-se uma cidade. Neste momento, nem S. Judas nos safava.

Um país a cair aos pedaços

Isto porque a política de urbanismo que se segue cá por estas bandas é ‘do chão não passa’. E assim é deixar cair, porque desta forma se arranja espaço para mais uns quantos centros comerciais, estádios de futebol ou mesmo umas salas de chuto, que tanta falta fazem.

Quanto às pessoas que ficam assim desalojadas, bem, é esperar que se construam mais prédios, sempre prometidos e que não fiquem em último nas listas de doação de casas, atrás de alguns emigrantes e outros.

Porque a casa agora já não a têm. Outra opção é a sempre disponível ponte, mas mesmo com estas já não se pode dormir descansado, porque está sempre sujeito a que esta lhe caia sobre a cabeça.

O que é importante construir são os estádios de futebol, para uns jogos aos fins-de-semana, estádios que apenas servem aos grandes clubes, porque os pequenos que trabalham semanalmente com jovens e crianças têm de se contentar com terrenos baldios ou os mais sortudos com algum pequeno recinto cedido gentilmente pelas câmaras municipais ou usar os ginásios das escolas (quando estas têm a sorte de os possuir).

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Ou então investir em locais de convívio como o Parque das Nações e depois organizar excursões de vários pontos do país para visitar o local, porque as gentes de Santo Aleixo da Restauração ou de Aranhas gostam de vir ver o que se faz na capital, uma vez que nas suas terrinhas, de construções apenas conhecem as casas dos filhos da terra que voltam ao fim de alguns anos depois de trabalharem noutras paragens.

Mais importantes e imponentes são mesmo as obras que decorrem no Porto e que não podem nem se deixam passar por esquecidas, até porque estas também fazem questão de deixar ruir uns quantos prédios e habitações para livrar caminho e para não se ficarem atrás dos constantes desmoronamentos a que a capital moura assiste quase todos os meses.

Pela capital alfacinha, espera-se que os prédios caiam para depois ali construir elevadores que levem os turistas a ter novas visões da cidade, porque andar sempre com os pés assentes na terra faz perder muitas coisas bonitas. É preciso elevar a cidade às suas colinas.

E deixar cair o que está velho, porque isto de demolições ainda fica caro. Se alguém morrer, dá-se-lhe os pêsames e encomenda-se uma missa por alma, porque o que é preciso é andar para a frente.

Cronista da Mulher Portuguesa: Maria Carmo Torres

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