Crónica: Barricados, a novela da vida real

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Ultimamente, parece que Portugal se rendeu completamente não só ao ‘Big Brother’, como também a outra nova novela da vida real: os Barricados da nossa sociedade.

Barricados, a novela da vida real

Portugal, além de ser pomposamente um país de brandos costumes, pelo menos é o que se costuma dizer, é também, de há algum tempo a esta parte, um país de modas estranhas e que servem somente para alimentar ainda mais a ineficácia de um país entregue, desculpem-me a expressão, aos loucos.

A nova novela da vida real dá pelo nome de ‘Os Barricados’. Começámos por um barricado nas instalações da RTP, seguimos depois para um outro homem que se barricou num andar da Costa da Caparica e, finalmente, um terceiro homem que se refugiou nas instalações do BIC, Banco Internacional de Crédito, em Telheiras.

Analisando estes barricados e o Big Brother, entre o hilariante e o ridículo da coisa, já não sei muito bem qual a novela da vida real que os portugueses realmente preferem!

A moda dos barricados está mais afirmada que nunca. Mas, quem são estes barricados? Pessoas aparentemente normais e que em nada faziam prever tamanhas atitudes, mas que elaboram um espectáculo em torno de uma determinada situação para fazerem as suas exigências da forma mais descabida possível. Por isso, já sabe: se quer aquele vestido lindo que viu na montra de uma loja ali da Avenida da Liberdade, barrique-se, quanto antes, numa mercearia; se pretende conduzir aquele carro topo de gama, mas não tem dinheiro para o comprar, barrique-se!

Mas, e desta vez, escolha um sítio com maiores dimensões, um cinema por exemplo, porque a exigência é também ela no seu todo mais dispendiosa. Ao ponto a que Portugal chegou! A única forma de resolver as coisas parece ser mesmo barricando-se algures, mas por este andar, e se a moda pega, acredite que não vai haver sítios suficientes para se barricar.

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É que o descontentamento é uma característica comum a muitas pessoas, as exigências são vastas, e não estou a ver assim tantos lugares invulgares para as pessoas se barricarem. Sim, porque se toda a gente o decidir fazer, o que vai passar a ser notícia é a surpresa da exigência e o lugar invulgar em que está barricado!

Pode também abrir uma imobiliária (um excelente investimento, seguindo o desenrolar das coisas), incluindo nela locais a pensar nos barricados, com casas e lugares de sonho para que as pessoas se possam barricar à vontade, gozando de todas as mordomias e luxos a que uma pessoa deste porte e nobreza deve ter direito.

É que faz-me espécie como é que Manuel Subtil, o criador e ‘costureiro’ desta moda, saiu das instalações da RTP aplaudido pelos populares ali presentes.

Até pensei, por escassos momentos, que a televisão estava a fazer a cobertura a alguma vedeta do cinema, qual Kevin Costner português, ou que a figura de Tarzan tinha ressuscitado para o mundo e, ainda para mais, logo em Portugal. Mas não encontrei nada disso! Vi apenas um homem que horas antes estava totalmente perturbado psicologicamente, e que agora parecia ser mais aplaudido que a selecção nacional.

O que torna este homem assim tão louvável? Nada! Perdeu um negócio que tinha no estrangeiro por causa de uma reportagem da RTP, anos antes, mas se estava tudo em ordem qual o motivo de ver o seu negócio ruir de uma hora para a outra?

Ou, estaria o Sr. Manuel Subtil em maus lençóis e com coisas ilegais a funcionar no dito negócio? Bem, isso agora é lá com a justiça que, ao que se consta, tarda, mas não falha!

Um outro seguidor desta vaga de barricados foi um homem que seguiu o mesmo exemplo, mas desta vez num andar da Costa da Caparica.

Não surtiu tanto efeito como o caso de Subtil, só mesmo para os moradores daquela zona que nunca tinham presenciado algo semelhante, mas ainda assim teve direito a aparecer na televisão. (Não será isso o que todos querem?) Um terceiro caso, este ocorrido na semana transacta, aconteceu no Centro Comercial Carrefour, em Telheiras, quando um homem, após ter alvejado a ex mulher, entrou nas instalações do BIC, Banco Internacional de Crédito, e ali se barricou.

Arrastou consigo uma refém, Fátima Ferreira, funcionária do banco, e que desde a hora de almoço, por volta das 13.15, até à 0.40 minutos se manteve no interior da agência bancária com a respectiva refém. O barricado queria um telefonema de Jorge Sampaio ou António Guterres aceitando as suas exigências: que os seus dois filhos fosse educados no Colégio Militar. (exigência original, não lhes parece?)

A diferença entre estes casos e os anteriores é que José Luís Palminhas da Silva, o barricado deste terceiro episódio, alvejou uma pessoa, facto que não havia acontecido nas situações anteriores. No motivo dos três tiros estão, imagine-se, os ciúmes que o homem tinha da sua ex-mulher pelo facto de esta manter um relacionamento com o gerente do banco.

Há de facto doidos para tudo! Começo a acreditar que um homem com o orgulho ferido é pior que um toiro enraivecido! Ou será que é por acaso, ou mero costume, que os homens gostam tanto de touradas? Se calhar vêm no touro a sua imagem….Bom, mas isto são apenas suposições, óbvio!

E, agora, reflictamos sobre o motivo destes acontecimentos aberrantes- pura falta de acção das autoridades ou necessidade excessiva de protagonismo? Se após o primeiro barricado a situação tivesse tomado outro rumo, certamente que episódios como este não se voltavam a repetir.

O folclore destes acontecimentos é simples: mobilizam-se os media, os populares tornam estas exposições ridículas num acontecimento nobre e inédito, e assim é evidente que é muito difícil travar actos desta envergadura. O Big Brother e a novela da vida real ‘Os Barricados’ têm em si características semelhantes: ambos estão dentro de uma casa porque querem, e o povo rejubila com as suas palavras e atitudes.

A única diferença é que os edredões não existem e, por isso, não se podem mexer muito ou deixar adivinhar o que lá debaixo se passa. Em tudo diferentes, mas também em tudo iguais!

E, quem diria à TVI e Endemol que ia ter concorrentes tão reais a fazer-lhes frente? Isto há coisas que só acontecem mesmo em Portugal!

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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