Crónica: Os episódios negros da semana

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Os episódios negros da semana: Rosa Casaco é um homem livre. Uma violação. Educadora que amordaça crianças. Brigas populares que se resolvem com duas mortes. A anarquia total num país de brandos costumes!

Os episódios negros da semana

Cada vez que leio um jornal, na Net ou em formato papel, constato que os casos de ‘injustiça’ multiplicam-se assustadoramente. No turbilhão do palco social, onde a lei e as regras parecem não existir, cada um faz o que bem entende, sem medir consequências dos seus actos.

As leis parecem não importar, a justiça popular sobrepõe-se aos padrões do civismo social, e a vida continua num mar de desordem galopante. É esta a conclusão a que chego perante as notícias que o meu olhar devorou na semana transacta, estupefacta, quase hipnotizada pelo fosso criado entre o que está certo e o errado. Onde está a justiça?

Rosa Casaco, ex-dirigente da PIDE, líder da brigada que assassinou Humberto Delgado, ‘o general sem medo’, é hoje um homem livre. Porquê? Porque o crime do qual é acusado, o do assassinato de Humberto Delgado, já prescreveu.

E então o que fazer? Nada! A viver em Espanha há cerca de duas décadas, Rosa Casaco pode voltar a Portugal, desfilar pelas ruas, exibindo ainda o orgulho de ter pertencido ao regime de Salazar, exaltar o lema ‘Deus, Pátria e Família’, e deambular-se pelos recantos da memória quando as suas ordens faziam a chacina em território nacional. E, pergunto eu, onde está a justiça?

Perdoa-se um ditador e assassino 20 anos depois, apenas, porque o crime prescreveu? Nesse caso, qualquer um pode partir para Espanha, refugiar-se por lá, e 20 anos depois regressar como se nada se tivesse passado!

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A ideia que tenho da lei portuguesa não é a melhor, e deixa muito a desejar. Isto porque, qualquer cidadão tem consciência do que representava Rosa Casaco na época da ditadura, e vê-lo imune à sentença é algo que dá um certo gosto amargo na boca, um sentimento de injustiça muita forte, um atentando àquilo que definiram como Lei. A falta de acção nos circuitos judiciais é incoerente, passiva, e vazia de moralidade.

Dá até vontade, e agora ironizando um pouco, de fazer a célebre pergunta, devidamente adaptada, claro, ‘Onde está a justiça?’. Lógico que em vez de um frigorífico, como aparece no anúncio, em que o jovem pergunta pelo pão, teríamos o mapa de Portugal inteiro, com a devida localização das maiores atrocidades cometidas no nosso país, mas que permaneceram imunes, quer por prescrições ou por falta de provas. Brilhante!

Ao mesmo tempo, e quando parece bem mais simples fazer justiça, pois as provas e os suspeitos estão ali ao alcance das autoridades, as coisas são tão complicadas como no caso de Rosa Casaco. Uma jovem foi raptada esta semana, quando se encontrava na companhia do namorado, e brutalmente violada.

Isto numa noite em que esse grupo de quatro indivíduos furtou, espancou, fez estragos, e ainda assim violou uma jovem. O caso seria complicado se a polícia não soubesse onde estavam os autores dos crimes, mas a verdade é que a polícia sabia perfeitamente a sua localização, mas não actuou. Tudo porque os indivíduos ameaçaram fazer fogo caso vissem algum agente.

Além do mais, foi já detido o quarto ‘homem’ deste grupo. Um jovem de 15 anos que devido à idade não pode ser preso, limitando-se a dar entrada numa casa de correcção. Confundem-me estas situações: como é que um rapaz tão jovem não pode ir preso, mas pode cometer as atrocidades das quais foi protagonista nessa noite.

Corrigir? Vamos corrigir o quê? A educação que não teve? Os crimes que eventualmente já cometeu antes deste? A história pessoal que, simplesmente, não pode ser apagada? Não se consegue corrigir uma violação! Tenta-se é dar a punição, e a pior que este jovem podia ter era ir para a cadeia.

Até porque, com a repugnância que os reclusos sentem dos violadores, acredito que a justiça feita pelos da mesma ‘espécie’ seria o mais indicado! (Perdoem-me a dureza!) Outro episódio que me deixou perplexa, e que constatei no Diário de Notícias, foi o ocorrido num jardim de infância do Centro Social de Cabeceiras de Basto. Como é possível uma educadora colocar adesivo na boca das crianças para elas se calarem? Onde vão parar as formas de educação portuguesas?

É que muito dificilmente se consegue encontrar o meio termo: ou a criança faz o que bem entende, desde tratar mal a bater nos mais velhos, como simplesmente é ‘amordaçada’ para se calar. Perguntam os portugueses, e bem, ‘onde vamos deixar os nossos filhos?’

A resposta é complexa, extremamente exigente na selecção de critério pois, além do estado dos jardins de infância e creches não ser o melhor, há ainda a registar a falta de massa encefálica, profissionalismo e responsabilidade de senhoras como esta educadora.

Ainda para mais, a dita senhora tem problemas de foro psiquiátrico o que por si só é extremamente reconfortante: deixamos um filho numa instituição aos cuidados de uma pessoa que não sabemos se é ou não mentalmente aceitável! E como é que a instituição deixa essa senhora trabalhar lá? Ainda mais para mais depois dessa senhora ter também sido acusada de agredir uma menina de quatro anos, chegando esta a casa a sangrar do nariz!

Que eu saiba, os pais deixam os filhos num local de confiança, e não num ringue de boxe! Certo? Onde está a responsabilidade? (nova adaptação do anúncio: ‘Onde está o pão?’) Com a quantidade de pessoas desta área desempregada, é triste deixarmos que o estado da educação, logo desde muito cedo, comece desta forma: pancadaria, violência, maus tratos, antecipam um futuro que não pode ser muito risonho!

Para completar a saga dos episódios de humor negro desta semana, eis que termino esta lista de acusações com o ocorrido no Lugar de Santana, uma freguesia de Parada de Gatim. Dois homens morreram, e a história é simples: após um jogo de cartas, houve um desentendimento entre dois homens. Um deles não se fez rogado, e tempo depois disparou sobre o outro. Os filhos do já falecido senhor, querendo fazer justiça, decidiram dar uma tareia no primeiro agressor, espancando-o até à morte.

Desta forma, morrem duas pessoas, e outras três, os filhos da primeira vítima, vão ser condenados. Voltámos, indiscutivelmente, à época da justiça popular! Porquê? Simplesmente porque as pessoas não confiam na justiça das leis, porque estão saturadas de tanta falsidade e trafulhice, e porque estão fartos da história do mais forte vencer o mais fraco. Tradução: o rico ganha, o pobre perde!

Se isto continua assim, daqui a um tempo todas as fases da nossa vida vão estar ameaçadas: quando somos pequenos corremos o risco de ser amordaçados por uma criatura qualquer; mais tarde, na adolescência, o perigo de ser violada continuará a persistir, perante o caminhar assustador deste tipo de crimes; em pleno café, pode disparar a arma, que trás na mala, e dar um tiro naquele senhor, apenas porque passou à sua frente. Prisão? Não se preocupe!

Vá passar umas férias a Espanha e volte livremente décadas depois. A reforma, essa, goze-a num lar de idosos!

Mas cuidado, pois pode sempre ser surpreendida por um colega com distúrbios, que decida incendiar tudo (caso ocorrido esta semana, quando um idoso deitou fogo ao lar, morrendo três pessoas e ferindo mais de 20). Não é uma vida pacata e agradável esta que temos?

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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