Crónica: E vivam os aumentos

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Cronistas da MulherPortuguesa
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A realidade nua, crua e com um odor forte e intenso a aumentos, é esta que lhe dou a conhecer e que você pode constatar. E vivam os aumentos.

Na noite do dia 29 de Março e até por volta da meia noite, as horas foram de loucura nas bombas de gasolina. A razão é simples e lógica: com o aumento anunciado da gasolina e gasóleo para o dia seguinte, a adesão às bombas foi total. Já imaginou, a quanto obrigam os aumentos?…

Uma noite calma até ao momento decisivo, em que o governo anunciou que de facto, os aumentos iriam avante. A gasolina aumenta 17$00 e o gasóleo 15$00. Feitas as contas com a máquina calculadora lá de casa, eis que surge um valor indómito. Pega-se na chave do carro, sai-se de casa e, bombas de gasolina aí vamos nós.

E vivam os aumentos

Certamente, esta foi a ideia que motivou muitos portugueses, a deslocarem-se ao local mais próximo de abastecimento do seu veículo. A noite até estava um pouco fria e, permanecer no interior do carro à espera que chegasse a nossa vez, até não era um serão muito mal passado.

Mas, quando se avista o dito posto de gasolina, a confusão é total. Uma quantidade de carros preenche o espaço, à escassas horas quase deserto. Música elevada, em jeito de mostrar que o nosso rádio até é melhor do que o do carro que está atrás de nós, muitas filas e uma quantidade de luzes intermináveis, reflectidas no espelho retrovisor.

O pandemónio instalou-se de tal forma que, quem precisasse de colocar uns litros de gasolina, não por causa dos aumentos mas porque necessitava mesmo de se deslocar, teve que aguardar um longo período de tempo e, o mais certo foi que, quando chegasse a sua vez, o gasóleo já marcasse os 125$00 e a gasolina os 178$00.

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Esta medida tomada pelo governo que proporcionou o caos nas bombas de gasolina, surge como um processo relativamente estranho. A lógica é simples: se foi aumentada a produção de petróleo, como forma de gerar uma descida do seu valor monetário, então com que moral se aumentam os preços da gasolina e do gasóleo? Bizarro, no mínimo.

Claro que, o governo apela para a estabilidade da economia e para todos aqueles palavrões, constituidos por siglas que o português comum limita-se a ouvir, mas que não percebe. E, num país de valores tão marcados e habituado a contestações mais de paralesia de serviços, do que própriamente revolucionárias, a oposição encontrou logo uma solução: realizar um buzinão. Isto é, tipicamente português…

No meio disto tudo, o único que se manteve impune a todas estas medidas governamentais foi o gasóleo agrícola, que manteve o seu preço habitual de 72$00. Menos mal para os agricultores e as pessoas que necessitam dele mas, e então os restantes? Brevemente, teremos que ser confrontados com mais um aumento dos transportes e dos táxis, sem contar com a inflacção que está já em marcha, a cavalgar por esses caminhos monetários fora.

Decididamente, estes custos elevados dão que pensar e tudo isto parece ser, uma história fictícia criada a pensar nos Óscares, do ano seguinte. Mas, não é! A realidade nua, crua e com um odor forte e intenso a aumentos, é esta que lhe dou a conhecer e que você pode constatar.

Já agora, correm boatos que no dia 30 de Abril poderá haver um boicote às bombas de gasolina, para além do desafio do buzinão lançado ontem pela oposição. Um boicote pode ser produtivo, mas o que é um dia para os cofres do Estado?

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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