Crónica: As vozes do silêncio á solta pela cidade

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Na rua, os Outdoors violam a nossa visão para qualquer lado que olhemos e assim, à primeira vista, até parecem bastante humanitários e competentes, são eles as vozes do silêncio.

Diariamente somos assaltados pelos anúncios publicitários, nem sempre realistas e credíveis, em jornais, rádios, revistas, na Internet ou na Televisão. Na rua, os Outdoors violam a nossa visão para qualquer lado que olhemos e assim, à primeira vista, até parecem bastante humanitários e competentes.

As vozes do silêncio

Ao telefone, a resposta que ouvimos nem sempre é a mais agradável e, em muitos casos, nem sequer somos dignos de uma das palavras que estavamos à espera. Oferecendo assistência e apoio social, as Linhas SOS não são sempre aquilo que apregoam. Do outro lado do telefone, a melodia do silêncio fala mais alto do que qualquer palavra.

Autointitulam-se como o possível remédio para os problemas de racismo, violência, sexualidade, alcoolismo, toxicodependência, entre outros. São linhas para as quais se pode ligar, à espera que do outro lado a voz desconhecida possa confortar um pouco. Mas, este conforto nem sempre vem.

Não há ninguém para falar e a situação está a tornar-se insustentável. Telefona-se uma vez mais, e nada! Do outro lado, a mesma gravação de há momentos, o mesmo sinal irritante ou, então, um silêncio aterrador, que nos faz sentir ainda pior do que estavamos há instantes.

Quem está por detrás destes serviços? Pessoas habilitadas para tal ou meros funcionários recrutados, que optam por fazer inúmeras pausas para café em vez de auxiliarem aqueles para os quais estavam destinados?

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Não se sabe muito bem…Incompetência da Portugal Telecom, dos funcionários das linhas SOS ou as culpas irão para os pobres fios dos aparelhos da central? Claro que depois é sempre fácil vir negar aquilo que se constata, porque afirmar o lado falso de uma realidade é bem mais fácil do que admitir o erro!

Os horários de funcionamento nem sempre são os correctos, as linhas estão saturadas (a desculpa mais frequente), ou então as horas de expediente são curtas demais para satisfazer as necessidades das pessoas que para lá ligam. Imagine-se o dinheiro que não devem receber para estarem em funcionamento e, depois, constata-se que os seus serviços não são os mais profissionais e credíveis.

Uma vez, em determinada altura, liguei para uma linha desse género, não para pedir aconselhamento ou ajuda, mas sim para solicitar somente uma informação.

Sabendo que, a informação que pretendia estava perfeitamente dentro da área da linha, a senhora ou menina, com voz melindrosa e acanhada, não me soube dar a respectiva informação, básica e obrigatória do conhecimento da linha. Não se admite que isto aconteça!

Fez-me pensar o seguinte: se as pessoas que estão do outro lado de linhas de Toxicodependência, Alcoolismo, Sida ou Racismo, possuem aquelas características na voz, então o mais certo é a vítima desligar ainda mais aterrorizada, pois uma voz amiga daquele género deixa qualquer um mais traumatizado do que no momento em que se fez o telefonema.

A veracidade do traços de funcionamento e as características que as linhas apregoam têm que ser colocados em causa, face à realidade que tem vindo a ser confirmada e difundida por orgãos de comunicação social.

As Linhas SOS são, supostamente, o refúgio da palavra, a única porta para a compreensão e o lugar invisível do qual as “vítimas” retiram algum conforto. Ainda que algumas das linhas levem avante os seus objetivos, muitas resumem-se a sinais indecifráveis ou a gravações velhas e desatualizadas.

Prometer ajudar é algo muito sério, e não é com esta atitude contraditória que se consegue algo. Este é decididamente um dos tais casos no qual as palavras valem mais do que qualquer imagem, o prometido é mesmo devido, e onde o silêncio não é de forma alguma equivalente a ouro…

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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