Os Especialistas alertam para a necessidade de haver tratamentos para a esquizofrenia que devem respeitar os riscos cardíacos dos doentes. Como tal, foi criada uma entidade que previne estas situações.
A preocupação com o prolongamento do intervalo QTc (ver informação no fim), associado aos tratamentos para a esquizofrenia, levou recentemente à constituição do Grupo para a Segurança Cardíaca em Esquizofrenia (CSISG). Esta é uma entidade que reúne especialistas de diversas áreas, quer de cardiologia, quer de psiquiatria para, em conjunto, alcançarem os seguintes objectivos: informar os profissionais de saúde sobre a temática do risco cardíaco associado ao tratamento da esquizofrenia; dotar os médicos de dados que lhes permitam tomar opções terapêuticas adequadas; alertar para o risco de prolongamento do intervalo QTc.
Os tratamentos antipsicóticos para a esquizofrenia têm sido associados a diversos problemas cardíacos, nomeadamente ao prolongamento do intervalo QTc. A existência destes problemas levaram, inclusive, à retirada do mercado de alguns produtos, como foi o caso do droperidole, voluntariamente suspenso no Reino Unido, na Holanda e na Irlanda, ou o sertindole, totalmente afastado do mercado europeu.
Outros produtos são comercializados com alertas especiais, relativamente a possíveis efeitos adversos no prolongamento do intervalo QTc. São exemplos a tioridazina, a mesoridazina e a ziprasidona. O Grupo emitiu recentemente um documento de consenso, divulgado a nível mundial, que de acordo com as recomendações do CSISG, é fundamental que o risco de prolongamento do intervalo QTc seja diagnosticado em todos os doentes que sofram de esquizofrenia.
Entre os factores que contribuem para um aumento deste risco encontram-se a doença cardíaca prévia, doenças sistémicas como a diabetes ou cirrose, o facto de ser mulher, algumas terapêuticas antipsicóticas e combinações medicamentosas. Uma vez que seja detectado este risco, o doente deve ser tratado com terapêutica antipsicótica com um efeito mínimo sobre o intervalo QTc.
“O controle do risco associado ao intervalo QTc é o ponto central da declaração do CSISG, já que este assunto tem vindo ganhar cada vez mais importância para os médicos e para as entidades responsáveis pela aprovação de medicamentos. Por exemplo, tanto a FDA como a EMEA restringiram o uso de determinados medicamentos por causa do risco associado.”- afirmou Peter Falkai, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Bonna e um dos membros do CSISG.
Para John Camm, responsável do Departamento de Cardiologia do St. George’s Hospital Medical School de Londres, resumiu o trabalho do CSISG da seguinte forma: “Os membros do CSISG sabem que deram um primeiro passo muito importante no sentido de serem definidas guidelines para a gestão adequada do intervalo QTc em psiquiatria. A nossa orientação vai no sentido de auxiliar os psiquiatras a reduzir o risco a que os doentes estão sujeitos e a assegurar a implementação de medidas universais.”
O CSISG é apoiado por uma bolsa ilimitada da Lilly Farma.
O intervalo QT refere-se ao tempo que decorre entre o início de uma onda Q até ao fim de uma onda T num electrocardiograma e representa a depolarização e repolarização ventricular. Este intervalo varia de acordo com o ritmo cardíaco. A correcção deste valor indica-nos o valor QTc que, quando é superior a 450 milisegundos, é preocupante, e superior a 500 milisegundos indica um elevado risco de taquiarritmias (torsade de points).