Mais do que um mero conjunto de regras – daquelas que só existem para não serem cumpridas – as boas maneiras estão a tornar-se verdadeiras relíquias, cujo valor aumenta cada vez que alguém se esquece delas. Escusado será dizer que, caso se vendessem, hoje em dia valeriam uma fortuna.
Boas maneiras
Mas a educação não se vende. Adquire-se naturalmente e manifesta-se como parte integrante de uma forma de estar e de demonstrar respeito pelo semelhante – e muitas vezes por nós próprios, ao evitar que passemos para os outros uma imagem desprovida de maneiras.
Demonstrar que possuímos alguma educação é sem dúvida mais eficaz do que ostentar um pseudo-nível social através de um grande tacho como emprego e um grande carro na garagem da moradia em Cascais. “Por favor” e “obrigada” são bem mais agradáveis de ouvir do que a buzina de um BMW.
Talvez não seja muito apropriado pôr o guardanapo semi-dobrado sobre os joelhos quando se come um hambúrguer no McDonald’s. Mas à excepção das inevitáveis adaptações das regras de etiqueta aos tempos que correm, não podemos enveredar pelo caminho mais simples e tornar a falta de educação uma moda tão instituída como as calças de ganga, apenas porque também é confortável.
Já é do senso comum dizer-se que a nossa sociedade transpira falta de chá e que é preciso voltar aos “bons velhos tempos”, em que a educação era uma coisa muito bonita e que se aprendia desde o berço. No entanto, as pessoas partilham esta opinião com os palavrões que dizem ao volante, com as beatas que atiram para o chão e com as pernas de frango que comem à mão à frente seja de quem for.
Mais estranho ainda é o facto de as boas maneiras diminuírem quando o nível de intimidade aumenta. Quanto mais próximos nos sentimos de alguém, menor é a nossa preocupação em sermos agradáveis e corteses. E se fazemos isto com os nossos conhecidos, não podemos estranhar a frieza e despreocupação com que lidamos com os desconhecidos.
E se falamos de desconhecidos temos de mencionar a “amabilidade” com que somos habitualmente recebidos pelos mais diversos funcionários dos mais diversos serviços a que temos “a ousadia” de recorrer. Sim, “ousadia”, porque é disso que os olhares e os grunhidos nos acusam sempre que nos aproximamos de um balcão.
Há mesmo quem tenha tendência a desculpar-se por solicitar um serviço a que tem direito. “O senhor desculpe, era só para depositar dez euros…” O funcionário não emite nenhum som e trata bruscamente dos papéis enquanto o seu olhar nos diz que “é preciso descaramento… como se eu não tivesse mais que fazer!”.
Ora não é muito melhor – para o público e para as empresas – que as pessoas sejam tratadas cordialmente, com a amabilidade e a atenção que qualquer cliente (qualquer ser humano, aliás) merece?
Claro que nem toda a gente é grosseira e desagradável. Uns são mais do que outros e certamente existe quem se esforce por ser educado, se bem que na maioria das vezes o resultado não é particularmente eficaz.
As boas maneiras são algo a adquirir e utilizar naturalmente, nunca ostensivamente. Um esforço evidente por demonstrar educação é muitas vezes confundido com hipocrisia e acaba por ter o mesmo efeito que a simples falta de maneiras – algo que que já se tornou comum e em que as pessoas têm tendência a reparar cada vez menos.
É óbvio que existem alguns princípios de educação e regras de etiqueta que temos de conhecer e pôr em prática, mas em geral, as boas maneiras reflectem-se por uma atitude de respeito pelos outros, demonstrado com elegância e bom gosto, e sempre com a subtileza e a naturalidade de quem está simplesmente habituado a agir assim.