São crianças ainda, mas em vez de se preocuparem apenas com as brincadeiras de bonecas, têm de saber já como colocar um penso higiénico e apesar de usarem vestidinhos, têm de colocar soutiens. São crianças com puberdade precoce.
Todos passamos pelas transformações físicas de criança para adulto. No entanto, por vezes essas alterações ocorrem muito cedo ou muito tarde. Quando acontecem cedo demais têm a denominação de puberdade precoce. Por cada 50 casos de puberdade tardia, ocorre um caso de puberdade precoce.
Puberdade precoce
A definição de puberdade precoce apenas é aplicada quando os sinais de puberdade e amadurecimento sexual são visíveis em raparigas com menos de 8 anos e em rapazes com menos de 9 anos de idade, situação que acontece numa em cada 5.000 a 10.000 crianças. Existem casos registados de meninas cuja primeira menstruação ocorreu aos três anos de idade.
Estas crianças necessitam de um acompanhamento médico e um tratamento à base de medicamentos inibidores, porque o surto de crescimento que acompanha a puberdade ocorrerá também cedo demais.
Na puberdade, a adolescente cresce de 6 cm a 12 cm. Depois o crescimento sofre uma desaceleração e passa a acontecer entre 4 cm a 6 cm anualmente.
Se este crescimento acontece precocemente, antes da idade considerada normal entre os nove e os onze anos, a criança cresce mais do que as crianças com a mesma idade mas pára antes de atingir a altura ideal para a idade adulta.
Nas raparigas o principal sintoma é o aparecimento de seios, através de pequenos caroços que podem alertar os pais, mas não passam do desenvolvimento ‘normal’ do peito. Segue-se o aparecimento dos pêlos púbicos e axilares e por fim a menstruação.
No caso dos rapazes, o pénis e os testículos tornam-se mais desenvolvidos e podem também surgir os pêlos. As crianças podem tornar-se agressivas ou temperamentais, ter a pele mais oleosa e com acne. Pode acontecer um crescimento súbito e exagerado em idade precoce, pelo que é preciso ter em atenção o acompanhamento ao desenvolvimento ósseo.
Quais são as causas? Na maior parte das vezes não existe um motivo específico para tal acontecer. As causas podem ser funcionais (quando a hipófise provoca o inicio do desenvolvimento sem causa orgânica evidente), o que representa cerca de 75% dos casos, ou tumorais (quando tumores glandulares produzem hormonas sexuais e dão inicio à puberdade).
A alteração hormonal também pode ocorrer por hipotiroidismo (insuficiência da glândula tiróide) ou por mau funcionamento das glândulas supra-renais. Pode acontecer também uma hiper utilização das glândulas adrenais causada por um tumor, ou um aumento de volume dessa glândula, uma situação hereditária.
Nesses casos, considerados mais raros, a anomalia é chamada de pseudopuberdade precoce ou puberdade precoce não-central.
Pacientes portadoras de microcefalia e hidrocefalia ou que possuam sequelas de encefalite, meningite, tuberculose, sífilis, toxoplasmose e traumatismo cranioencefálico podem apresentar este problema.
Uma equipa de pesquisadores norte-americanos afirmou ter descoberto que um componente químico encontrado em produtos de plástico, o bisfenol A, pode ser uma das causas para a puberdade precoce, através de pesquisas efectuadas com ratos ainda no útero das mães.
Este componente é usado em produtos plásticos policarbonatos, como biberões, recipientes para alimentos e revestimento interno dos enlatados.
É consensual que a idade em que uma mulher atinge a puberdade é bastante influenciada pela sua herança genética, assim como por factores ambientais, como sejam a nutrição, exercício físico e o próprio peso. Crianças mais obesas tendem a chegar mais cedo à puberdade.
Um estudo recente revelou também que a depressão materna pode induzir a puberdade precoce das filhas.
Outra questão coloca-se no aspecto de que as raparigas não se encontram preparadas psicologicamente para essas mudanças, que podem mesmo provocar reacções opostas às que a puberdade geralmente acarreta, tornando-se demasiado tímidas e retraídas, devido à diferença entre o próprio corpo e o das outras crianças.
O desenvolvimento imaturo da sexualidade pode gerar até uma gravidez indesejada ou uma doença sexualmente transmissível, devido ao desconhecimento dos métodos preventivos.
A questão que também os pais colocam tem a ver com a idade em que irá decorrer a menopausa.
Segundo os especialistas, a puberdade precoce não leva à antecipação da menopausa. A quantidade de folículos – unidades do ovário que produzem óvulos e as hormonas femininas são reduzidas consoante a idade. No feto, há cerca de dois milhões dessas unidades, mas a bebé nasce com apenas 600 mil, e essa quantidade é libertada nos ciclos menstruais durante toda a vida fértil da mulher, até que ela pára de produzi-los e a menopausa ocorre naturalmente.
Por outro lado, existem estudos que afirmam que a mulher que chegou prematuramente à puberdade tem mais possibilidades de desenvolver o cancro no útero, e outros estudos apontam para que a menarca (a primeira menstruação) ocorre mais cedo em lugares com mais luminosidade, onde o sol é mais forte por mais tempo, como em países africanos e a sul do equador.
Há ainda pesquisas que provam que as mudanças alimentares e a introdução de alimentos mais gordurosos na dieta podem provocar uma redução na idade da menarca, uma situação que, na Idade Média ocorria por volta dos 14 a 18 anos e que agora ocorre, em média, entre os 9 e os 11 anos, o que demonstra que o ambiente interfere no amadurecimento biológico e psíquico da criança.