O seu trabalho como realizadora, aceitando o enorme desafio que foi realizar o seu sonho, numa grande produção cinematográfica sobre o 25 de Abril, Capitães de Abril.
Capitães de Abril
Com 34 anos e uma longa carreira de actriz reconhecida, quer nacional, como internacionalmente, Maria de Medeiros realiza o seu primeiro filme, uma longa-metragem, homenagiando os Capitães de Abril. Resultado de um sonho, talvez da própria idade da “revolução dos cravos”, Maria de Medeiros lança de novo, 26 anos depois, o sabor e as cores da revolução.
Pequenina, mas com “pulso de ferro”, Maria de Medeiros dirigiu 64 actores (portugueses e estrangeiros), 1 500 militares (do Exército e da Marinha) e cerca de 7 500 figurantes, para a realização do seu primeiro filme, a longa-metragem, Capitães de Abril.
Ultrapassou em muito, as 300 horas de trabalho árduo e os 30 mil metros de película. Contou com os apoios do Governo, num subsídio do IPACA, das Câmaras de Lisboa e Santarém, para além das Forças Armadas, que disponibilizaram viaturas da época, equipamentos e soldados.
O sonho de realizar este filme já é antigo. Remonta à vinda de Maria de Medeiros, com a sua irmã Inês, a mãe, a jornalista Maria Armanda Passos e o pai, o Maestro Vitorino D’Almeida, para Portugal, no ano de 1974. Na altura, viviam em Viena de Áustria, onde o Maestro desempenhava funções na Embaixada Portuguesa.
Aquando a revolução do 25 de Abril, a família voltou a Portugal, ficando hospedados na York House, um hotel às Janelas Verdes, em Lisboa, que teve um papel importante no decurso da revolução (e não só), no acolhimento, tanto de revolucionários, como das suas novas ideias, discutidas no bar desse mesmo hotel.
Maria de Medeiros não participou, lamentando-se ainda por isso, directamente na revolução, porém viveu-a, através dos olhos de seus pais e pela sua percepção infantil do que se passava. É também através desse olhar, de certo modo naif, que a realizadora e actriz, quis que o público visse este filme.
É como que uma impressão em película do seu olhar, da sua vivência, desta revolução. Talvez também adjacente a esta ideia, não quis que Capitães de Abril fosse um retracto histórico e fiel de relato das primeiras 24 horas da revolução de Abril, por isso acrescentou à verdade dos factos, toda uma narrativa ficcional.
Em 25 de Abril, com apenas 9 anos, apaixonou-se de imediato por aquele ambiente que respirava revolução. Mas, foi aos 21 que verdadeiramente decidiu fazer o filme. Por volta de 1981, o Maestro dá a ler à filha, alguns textos que o Major Salgueiro Maia lhe teria emprestado, como algum material para o seu romance Coca-Cola Killer. Ao ler, de imediato, Maria de Medeiros fervilhou com ideias para o seu filme.
Aí começou a pesquisa para o filme e os constantes contactos com Salgueiro Maia, Matos Gomes e Vasco Lourenço. Afinal, tratava-se de uma homenagem a estas pessoas e a realizadora não queria, de forma alguma, que alguma sequência deste filme entrasse em conflito com as mesmas. Tratava-se especialmente em que nada entrasse em conflito com o que realmente se passou, sem que isso se tornasse limitativo de a realizadora construir toda uma narrativa alternativa, a fim de não se colar somente aos factos.
Curioso é que o produtor principal de Capitães de Abril não seja português, para um documento que retracta uma parcela de extrema importância da nossa história social e política.
Este filme será dobrado em todas as línguas, quantos os países produtores.
Com música e orquestração do Maestro Vitorino D’Almeida e um original dos Madredeus, João Pedro Ruivo, primeiro assistente de realização, José Gomes, maquinista e Lito, chefe electricista, são alguns dos nomes que figurarão na ficha técnica e que representaram um grande incentivo de confiança a Maria de Medeiros por se tratar de pessoas com quem já tem trabalhado e com quem tem fortes laços de amizade. No papel principal, de Salgueiro Maia, poderemos ver a representação do actor italiano, Stefano Accorsi.
Conta já com 10 filmes no seu curriculo e foi escolhido, segundo Maria de Medeiros, para além do seu talento, pela sua notável semelhança com Salgueiro Maia. Este actor de 28 anos, já tinha conhecimento da nossa “Rivoluzione dei Garofani” (revolução dos cravos) e refere a coincidência da data 25 de Abril ser também feriado em Itália, pois este país, em 25 de Abril de 1945 assistiu à queda de Mussolini.
No teatro, Maria de Medeiros começou pela peça que lhe foi mais difícil de representar até hoje: Elvire, Jouvet 40. No cinema, começa também pelo mais difícil, uma longa-metragem, sobre um tema da nossa história recente, onde pretende, para além do relato dos factos, criar uma narrativa ficcional adjacente à história. Inicia assim, o seu trabalho como realizadora, aceitando o enorme desafio que foi realizar o seu sonho, numa grande produção cinematográfica sobre o 25 de Abril.