Quills- As Penas do Desej, é mais um filme assinado por Philip Kaufman. Marquês de Sade é a figura central deste filme que realça a obsessão do erotismo literário de uma figura histórica: Marquês de Sade.
Quills- As Penas do Desejo
É um filme fascinante, dotado de um forte cariz erótico, mas que aplica esse mesmo erotismo num jogo de ironia inteligente. Ao longo do filme, acabamos por não ter que nos chocar com nada, porque se antes são evocados os prazeres da carne, no minuto seguinte o realizador atribui à trama motivos irónicos que levam o espectador a soltar uma valente gargalhada.
Há que reconhecer o mérito de actores como Michael Cane, Kate Winslet, Geoffrey Rush ou Joaquin Phoenix. Eles todos dão ao enredo uma aura de erotismo, ironia, sadismo, intriga e violência de valores humanos.
O filme conserva na suas essência o perfume da violência em diversas cenas e um intenso sentimento sádico e masoquista, mas conserva também a repressão dos desejos e a renegação dos prazeres em prol da imagem de Deus e da sociedade.
O filme é quase todo passado num manicómio, ou hospital psiquiátrico, se quiserem, e tem por figura central o Marquês de Sade. O homem que ressuscita a sedução e erotismo, apregoa o prazer e apela à entrega dos corpos, quase como se de uma obsessão se tratasse. Este homem é a chave que faz abrir as portas de ‘Quills- As Penas do Desejo’ para um enredo complexo e intrigante.
Totalmente dependente da escrita, Marquês de Sade é um homem com distúrbios que tem que ter por perto uma pena e papel, para colocar neste todos os pensamentos eróticos que lhe povoam a mente. Sade é um homem provocador, irónico, que desperta nos outros sentimentos de repugnância e de desprezo.
Possui uma aliada, Madeliene, uma das lavadeiras do hospital psiquiátrico. Sade mantém igualmente uma relação razoável com o padre da instituição, até uma certa altura do filme, embora não hesite provocá-lo e atentar à religião do mesmo sempre que lhe apetece. Mas, a vinda de um médico para a instituição, que tinha como objectivo inspeccionar a instituição, irá alterar a vida de todos os que se encontram ligados à mesma.
A confusão solta-se quando é lançado um livro de Marquês de Sade, demasiadamente explícito, atentando à moralidade dos cidadãos, e colocando nas páginas do livro todas as ideias sexuais que reinam na mente do escritor, Marquês de Sade. A partir daí, Marquês de Sade torna-se o homem mais odiado e pervertido de toda a França.
Em traços gerais, o filme é constituído pelo trajecto de Marquês de Sade no hospital psiquiátrico, as suas loucuras, provocações, actos incompreendidos, protagonizados por um homem que queria levar avante o erotismo e a literatura, independentemente do custo que isso implicava.
A trama engloba também outros pequenos episódios: a paixão entre um padre e uma lavadeira, a morte silenciosa e cruel, a traição nua e crua, a insensibilidade, indiferença, os castigos físicos e psíquicos, bem como um desenrolar de laivos poéticos e metafóricos, de cariz erótico, que acompanham todo o filme. O que sucederá a um homem dado como imoral, pervertido e obcecado por sexo? Um homem que já havia matado e violado?
Quills- As Penas do Desejo goza de cenas que quase sempre são acompanhadas pelos tons escuros de celas e paredes velhas, e que são perfumadas pelo cheiro do erotismo proclamado por um homem para o qual não havia saída possível.
É preciso louvar a representação de todos os actores, principalmente do Marquês de Sade, interpretado por Geoffrey Rush, num papel difícil e que exige o transportar de uma imagem desprezível e desalinhada, mas ao mesmo tempo fascinante do ponto de vista literário.
O filme estreia hoje, dia 23 de Março, e prevê-se que venha a ser um êxito nas salas de cinema portuguesas. Poder-se-ia dizer que Philip Kaufman quis celebrar um brinde à literatura, ao erotismo, mas mostrando todo o lado sádico e obsessivo dessa personagem emblemática da história francesa que foi Marquês de Sade.