Há precisamente meio século, Egas Moniz era distinguido com o Prémio Nobel da Medicina. Aos 74 anos, o neurologista português que criou e desenvolveu a Leucotomia, que hoje conhecemos como Lobotomia, dava a Portugal o primeiro Nobel.
Egas Moniz
A criação e o desenvolvimento da Leucotomia, valeram a António Egas Moniz, o Prémio Nobel da Medicina. Estava-se, então, em 27 de Outubro de 1949, e a Academia Sueca anunciava o primeiro Nobel português. Passariam 49 anos antes que José Saramago repetisse a “proeza”, ao ser galardoado com o Nobel da Literatura.
Egas Moniz notabilizou-se com investigações no campo da Cirurgia Cerebral e desenvolveu a Leucotomia, que hoje conhecemos como Lobotomia, uma técnica que, segundo os seus objectivos, permitiria o tratamento de doenças do foro mental. “Glória à ciência portuguesa”, exclamava o Diário de Notícias, logo depois da atribuição. Anunciava-se o nascimento de uma nova era para a Ciência, em Portugal.
Assim poderia ter sido. Mas o certo é que a má utilização da técnica iniciada por Egas Moniz, tornou-a de má memória. Uma má fama perpetuada na Literatura e no Cinema, em obras como “Voando sobre um ninho de cucos”, escrito em 1958, por Ken Kesey, e filmado em 1975, por Milos Forman.
Em 27 de Outubro de 1949, a Academia Sueca anunciava a atribuição do Prémio Nobel da Medicina, ao neurologista português António Egas Moniz. Era um prémio a meias com o suiço Walter Rudolf Hess mas, nem por isso, deixava de ser o primeiro Nobel para Portugal.
Na justificação para o Prémio, a Academia sublinhava a “descoberta do valor terapêutico da leucotomia em algumas psicoses”. Egas Moniz pretendia, assim, utilizar a cirurgia cerebral no tratamento de doenças do foro mental.
O neurologista começou por observar que animais com um elevado grau de perturbação mental, tendiam a acalmar-se, depois de os lobos frontais terem sido isolados do resto do cérebro. Persuadido da eficácia da técnica, Egas Moniz ponderou a hipótese de o efeito no Homem ser semelhante.
Em 1936, não sem alguma controvérsia, Egas Moniz utiliza a técnica pela primeira vez num Ser Humano. O desenvolvimento da investigação leva-o a ser distinguido com o Nobel da Medicina em 1949.
“Glória à ciência portuguesa”, exclamava a imprensa, logo depois da atribuição. Anunciava-se o nascimento de uma nova era para a Ciência, em Portugal. Assim poderia ter sido. Mas o certo é que a má utilização da técnica iniciada por Egas Moniz, tornou-a de má memória.
O uso e abuso desta técnica levou a que muitos pacientes ficassem completamente inactivos e sem qualquer capacidade de iniciativa, falhando o objectivo de tratamento de perturbações psicológicas.
Grande parte da responsabilidade pela má fama deveu-se ao neurologista norte-americano Walter Freeman, que a transformou num processo de horror, em que os lobos frontais dos pacientes eram completamente destruídos.
De Leucotomia, o processo de Egas Moniz passou a Lobotomia. O método caíu em desuso a partir dos anos 60, altura em que o aparecimento e proliferação dos anti-depressivos votou ao quase total abandono, por parte da comunidade médica, uma técnica cirúrgica já profundamente deturpada em relação à que valera a Egas Moniz, o primeiro Nobel português.