A Vida tem destas Coisas no Teatro Taborda
“A Vida tem destas Coisas” é uma frase encontrada repetidamente nas doze farsas que o dramaturgo Mário de Carvalho escreveu para televisão, e que o Teatro dos Aloés adoptou como título genérico do seu primeiro espectáculo, elaborado a partir de três dessas histórias: O Estendal, A Burocracia e O Frigorifico.
A vida tem destas coisas é a expressão que traduz uma certa forma de aceitação do nosso viver quotidiano, assumido como imutável. Com mais ou menos prazer, conformado e alegre, é uma forma de viver típica da nossa Lisboa. Afinal, o mais importante é viver. “A Vida tem destas Coisas”, pelo Teatro dos Aloés, e com texto de Mário Carvalho, conta com a participação de Anabela Teixeira, Elsa Valentim, Jorge Silva, Martim Pedroso, Pedro Martinez e Rui Rebelo.
Mário de Carvalho tomou-se mestre no reconhecimento e revelação de figuras tipo dos nossos bairros populares. É com ternura e benevolência que nos descreve as suas virtudes e defeitos, sem os julgar definitivamente, procurando antes compreender. Essa forma amiga de olhar faz com que tenha amigos entre as figuras que cria. Não podemos esquecer esse fabuloso encontro entre o autor e as personagens no fim do magnífico livro “Casos do Beco das Sardinheiras”, em que as figuras criadas vão em grupo a casa do autor pedir-lhe que continue a contar as suas histórias.
Em “A Vida tem destas Coisas” não encontramos o real fantástico do Beco, mas o absurdo da existência do qual nos rimos com humor saudável, mas também com cumplicidade, porque identificamos o nosso vizinho e nós próprios, numa cena que vivemos ou já ouvimos contar, nesta Lisboa que apesar de tudo amamos.
O Estendal revela-nos a solidão dos fins de semana de uma grande cidade que quando pára não sabe o que fazer e descobre que está sozinha. Então ficamos à espera que nos suceda alguma coisa, seja lá o que for. Descobrimos que há muito mais gente que não sabe como se aproximar para contar a sua história que lhe parece mais singular do que a nossa.
A Burocracia descreve-nos o surreal das teias da nossa administração, dos pequenos poderes dos funcionários subalternos, tiranos sobre os utentes e servis perante o chefe. Toda a gente a dar opinião sobre o que não sabe, porque a burocracia é algo de fantástico e incompreensível e insusceptível de ser explicado. A vertigem do não possível que nos arrasta até à loucura.
O Frigorífico é a expressão de um mundo louco onde tudo pode suceder, onde o conto do vigário está em cada esquina e as nossas fraquezas são sempre a sorte de alguém. O intuito é fazer um espectáculo popular, com os códigos de uma comunicação teatral que fez acorrer ao teatro as mais variadas gentes, sem distinção de classe ou ideologia, e que hoje vai caindo no esquecimento.
Os preços dos bilhetes para este “A Vida tem destas Coisas” é de 1000$00 a 2000$00 (5 a 10 Euros).”A Vida tem destas Coisas” é um texto de Mário de Carvalho, em exibição até 11 Novembro, no Teatro Taborda, e representada pelo Teatro Aloés, com encenação de José Peixoto, cenografia e figurinos de António Casimiro e música de Rui Rebelo.