Desde o passado dia 4 encontra-se em cena, no Teatro do Bairro Alto, a peça “Afabulação” de Pier Paolo Pasolini. Um texto polémico que não deixa ninguém indiferente.
Palavras que chocam…
Há muito entre os projectos do director da Cornucópia, Luís Miguel Cintra, esta peça dá que pensar. E é esse o objectivo.
Pasolini põe a nu, com esta tragédia, a hipocrisia e a falsa moralidade que reina entre a sociedade burguesa. A relação pai/filho ultrapassa a familiar afectividade e transborda para o reino dos sentimentos incestuosos e da violência.
Esta é a história de um conflito de gerações, de um pai que, de repente, se vê atraído pelos louros cabelos do seu filho.
Uma tragédia que acaba com um assassinato e onde palavras como homossexualidade e sado-masoquismo são nota dominante.
Mas mais do que as imagens, são as deixas proferidas pelos actores que mais impressionam o público. No texto, e não tanto na encenação, é que se encontra a alma da peça.
Temas polémicos como a própria vida do dramaturgo… Pasolini nasceu na cidade italiana de Bolonha em 1922. Frequentou a Faculdade de Letras onde aprendeu a gostar de cinema e de pintura.
Publicou o seu primeiro livro Poesie a Casarsa com 20 anos de idade. Um ano depois, é preso por escrever numa parede “Viva a Liberdade”. Adere à causa comunista em 1947 e é, em Roma, que descobre a miséria dos bairros proletários. É condenado, novamente, por afronta à Igreja Católica.
Em 1966 escreve 6 tragédias entre as quais Afabulação. Pouco tempo depois apresenta o seu manifesto para o Teatro da Palavra onde defendia o contacto directo do actor com o público através do olhar. Entretanto, realizou filmes como Saló ou os 120 dias de Sodoma e Decameron. É assassinado em 1975.
Com encenação de Luís Miguel Cintra, a peça pode ser vista até dia 12 de Dezembro, de terça-feira a sábado às 21:30h e aos Domingos às 16h. A não perder…