O Centro Cultural de São Lourenço, em Almancil, inaugura hoje “O Meu Século”, uma exposição de aguarelas que acompanham o mais recente livro de Günter Grass, com o mesmo título. Ao contrário do previsto, o Nobel da Literatura não vai estar presente.
É a primeira exposição de Gunter Grass em Portugal, desde a atribuição do Prémio Nobel da Literatura 1999.
Um mês depois do anúncio da Academia Sueca, o Centro Cultural de São Lourenço, em Almancil, no Algarve, inaugura “O meu século“. Para ver até 17 de Dezembro, a exposição mostra as aguarelas que fazem parte do seu livro mais recente, “O meu século” que ainda não tem edição em Portugal. Uma oportunidade para conhecer melhor a pintura de um autor multifacetado, que sucedeu a José Saramago, no Prémio Nobel da Literatura.
Ao contrário do que chegou a estar previsto, Gunter Grass não vai estar presente na inauguração. Motivos de saúde levaram-no a cancelar a visita a Portugal, para abrir mais uma exposição no Centro Cultural com o qual colabora há cerca de 15 anos. Para já, a passagem do Nobel por Portugal fica apenas prometida para muito breve.
O Nobel para Gunter Grass deixou José Saramago, o antecessor, particularmente satisfeito. Afinal, dele partiu a proposta do nome de Grass para o maior prémio mundial de Literatura.
Sem a presença do autor, o Centro Cultural de São Lourenço, em Almancil, é, mais uma vez, cenário para uma exposição de Gunter Grass. Apaixonado por Portugal e, muito particularmente, pelo Algarve, o Nobel da Literatura volta a expor, num dos seus recantos favoritos. Desta vez, pode ver as aguarelas que acompanham a sua mais recente obra literária.
Ainda sem edição portuguesa, “O Meu Século” está dividida em 100 capítulos, um para cada ano. Cada um conta uma história de um acontecimento que, de alguma forma, tenha marcado o ano em questão. Cada aguarela é uma visão pictórica desse acontecimento. Mas nem todos os anos, têm direito a aguarela. O autor escolheu os 37 que considerou emblemáticos, representativos da realidade do século, no seu conjunto.
A 30 de Setembro, a Academia Sueca anunciava o Nobel da Literatura para Gunter Grass. Explicava, então, que “os argumentos folgazões e divertidos (de Gunter Grass) tão bem representam a face esquecida da História”. Ao autor alemão, a Academia atribuía uma imensa responsabilidade por um certo “renascer da literatura alemã, depois de décadas de destruição moral e linguística”.
A obra literária de Gunter Grass começou em 1959, com a publicação de “The Tin Drum”. E na obra de Gunter Grass, há um refúgio algarvio que traz novos horizontes à criação do artista. No cimo de um monte, há mais de uma década que o autor procura inspiração na casa que desenhou e construiu, bem no centro do serra do Algarve. Ali, rodeado pelo silêncio da natureza, entre cortado apenas pelo ruído dos animais, velhos amigos do escritor que sucedeu a José Saramago, na lista dos laureados.
Uma escolha que deixou Saramago particularmente satisfeito. Com ele, Gunter Grass partilha uma atenção muito especial à sociedade actual. Na obra de ambos, não passa despercebida a crítica dos valores da Humanidade.
E foi de Saramago, precisamente, que partiu a proposta do nome de Grass para o maior prémio mundial de Literatura. Uma aposta feita pouco depois de o próprio Saramago ter sido galardoado com o Nobel 1998.
Em finais de Outubro do ano passado, o Nobel português falou, pela primeira vez, na hipótese de avançar com o nome do alemão para o prémio deste ano. No início de Dezembro, quando recebeu o Prémio, em Estocolmo, Saramago formalizou a proposta.
Desde sempre, José Saramago foi um admirador da obra de Gunter Grass. Durante a década de 60, o escritor português trabalhava precisamente na editora que publicou as primeiras obras de Grass, em Portugal. Aos 72 anos, este “homem de todas as artes” vê a sua obra coroada com o maior prémio mundial de Literatura.