Entender a forma como a criança foi encarada durante o Antigo Regime e o olhar científico sobre questões como o mistério da concepção, a higiene e a educação na época setecentista é a proposta do livro, Gerar, criar, educar de António Gomes Ferreira.
Gerar, criar, educar
Neste trabalho são apresentados estudos e procedimentos usados para ajudar à concepção e os tratamentos efectuados para os problemas da infertilidade e gravidez, entre outros, alguns dos quais mais do que estranhos para o ponto de vista actual.
O uso de mistelas para ajudar a mulher ou o homem a conceberem, de amuletos como “hum dente de minino de 7 annos” junto do corpo era algo de habitual. Do mesmo modo pensava-se poder escolher o sexo da criança se a mulher, logo após o acto, se voltasse para a direita, no caso de querer um rapaz ou para a esquerda se desejasse uma rapariga, durante um período de 15 minutos.
E o aborto era já um assunto tratado pelas autoridades que se preocupavam com a sua prevenção e que tomaram mesmo posições acerca da matéria. Em algumas cidades portuguesas, o juiz do conselho tinha de tomar conhecimento de todas as mulheres que estivessem grávidas no seu distrito e notificava-as a darem regularmente “conta das barrigas” sob pena de pagamento de seis mil reis de multa e de prisão se não o fizessem.
Estes e outros “conselhos” pode encontrar neste livro, dividido em temas como a higiene e nutrição, o afecto dos pais versus os castigos aplicados, as maleitas e os percursos de vida e de educação, numa descrição que prende da primeira à última página não apenas os pedagogos mas qualquer leitor com algum interesse pela história e costumes do nosso país.
O autor, António Gomes Ferreira, pretendeu “levantar o véu sobre a questão complexa da relação entre saberes no processo científico” conforme afirma no prefácio a esta edição da Quarteto.