Vícios e Virtudes de Helder Macedo

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Vícios e virtudes de Helder Macedo
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Um escritor de visita a Lisboa encontra-se com um amigo que lhe fala de uma relação que tem vindo a manter com Joana, uma misteriosa mulher. E aqui está dado o primeiro passo para um romance repleto de Vícios e Virtudes.

Mas nada melhor que o próprio autor para falar da obra. Helder Macedo levanta a cortina sobre a história e fala à Mulher Portuguesa sobre este seu quarto romance, o terceiro publicado.

Vícios e Virtudes

‘A heroina do livro é Joana, uma mulher moderna, que se encontra numa fase de transição, é quase uma mutante e está a usar tudo isso como um jogo, inclusivamente com um tipo de comportamento que numa perspectiva tradicional masculina poderia ser considerado como ofensivo, até tocando as raias do obsceno.

Um dos jogos mais perversos que ela faz, mesmo o mais perverso de todos, é a um escritor que não é o eu narrativo, mas que surge como personagem, a quem ela se conta a si própria de tal maneira que o eu narrativo, ou seja o eu autor, em diálogo com esse outro escritor, começa a aperceber-se que a história que ela conta é impossível.

Porque coincide com a história anacrónica da mãe de D. Sebastião, Joana de Áustria, uma pessoa extraordinária e interessantíssima, e isso desencadeia de algum modo o processo da escrita com a pergunta: Como é que é possível que alguém esteja a brincar de tal maneira com a sua própria identidade? E isso desencadeia o processo de pesquisa e de busca que o livro, em termos romanescos, representa.’

O lado satírico não está separado do romance e Helder Macedo refere precisamente isso: ‘É satírico em relação a essa personagem, à fição que faz de si própria e também toda a transferência implícita do elemento encoberto tradicionalmente da nossa história e cultura, associado ao Sebastianismo.

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Transporta para esta via feminina alguém que seria, simultaneamente, a geradora disso mas também a sua recusa. Todos somos vítimas da nossa própria cultura e por isso pude brincar com os dois aspectos.

E como romancista os desafios também se fizeram sentir. ‘O desafio foi um pouco como é que hoje em dia se pode escrever um romance com elementos históricos mas que não procura ser um romance histórico. O grande desafio foi colocar essa personagem, que se finge uma personagem histórica, mas que existe e funciona agora em Lisboa, no nosso tempo. É uma história sobre agora, situada à apenas alguns meses atrás.’

Apesar da vertente sebastianista, não se trata de um romance histórico, algo que o autor diz mesmo negar. ‘Tem a ver com ideias latentes e lidando um pouco satiricamente com os conceitos de identidade nacional, transposta aqui para a identidade de uma pessoa, uma mulher, que vai inventando identidades consoante o interlocutor. Há todo um jogo de invenção e ficção, que nos deixa a pergunta final: Quem é esta pessoa, o que é esta identidade?’

Mas Joana, apesar de toda a sua força, não é uma personagem de quem o autor vá ter saudades: ‘A personagem Joana não vai voltar porque faz muito medo, deixá-la estar sossegadinha. Se voltar terá de ser ela a escrever o livro e eu torno-me personagem.’

Uma mulher que pode conhecer através da Editorial Presença.

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