Isto de se tirar um curso ou seguir uma determinada carreira profissional tem muito que se lhe diga. Não é à toa que chovem nas universidades ‘resmas’, como diria o tio Herman, de candidatos a Comunicação Social, Direito ou a cursos referentes a engenharias.
Por detrás de uma decisão está uma moda, uma enxurrada de cochichos nos recantos da cidade, e uma perspectiva, nem sempre satisfatória e real, de um futuro de luxo ou de muita liberdade laboral. Nos nossos dias cinzentos de luta e trabalho árduo está uma profissão em destaque: os jornalistas. Porquê? Sei lá! Está na Moda…
A moda das profissões
Segundo as estimativas do Diário de Notícias, TSF e Marktest, os jornalistas encontram-se no topo das profissões, embora tenham descido alguns pontos.
Necessidade de ser reconhecido na rua, paixão pelas câmaras ou gosto pelo microfone e escrita, certo é que de há um tempo para cá encontram-se ‘carradas’ de meninos e meninas com intenções de serem jornalistas, viajarem pelo mundo, de borla pois claro, e gozarem de um estatuto de liberdade para o que quer que seja. Ideia errada, pois as coisas não funcionam nada assim.
No outro dia ouvi uma conversa de duas senhoras, comentando a entrada na universidade dos seus ‘rebentos’, a abordarem a entrada dos recém-licenciados no mundo do jornalismo com uma descontração tal que, me levou a esboçar um sorriso irónico de esguelha, assim como quem não quer a coisa. Falava uma delas do receio que tem quando a filha tiver que ir para aqueles países que estão em guerra.
É uma profissão de muito risco, afirmava a outra. Até aqui tudo bem, mas para se chegar ao lugar do risco há um longo caminho a percorrer, que em muitos casos nem se chega a atingir o destino. É que a moda do jornalismo já vigora há algum tempo, e as condições de colocação são deveras alarmantes.
O curriculum de um recém-licenciado em Jornalismo bem se poderia assemelhar a um retrato negro, com figuras grotescas e um grande sinal de proibido no canto superior direito. Quando se termina um curso, arranja-se um estágio (e é se o conseguir arranjar).
Satisfeitos, os jovens pensam Vou ser um grande jornalista! Todavia, o mais certo é o estágio ser não remunerado, e passado 3, 6 ou 9 meses, os tempos habituais para estágios, os novatos estagiários saem pela porta pequena e de ‘mãos a abanar’.
A sorte pode até bafejá-los, e alcançarem um ‘estágiozeco’ com um ordenado reles, que dá para pagar os almoços mensais, mas que se abusar nas sobremesas ou no cafés o mais certo é ter que pedir dinheiro emprestado àqueles que os puseram neste mundo de falsas aparências.
Claro que há sempre hipóteses de conseguir encontrar um lugar mais ou menos razoável, mas isso implica um boa e grande cunha, daquelas bem fortes porque às vezes nem as medianas servem. Depois, ou se fica com o lugar porque o jornalista é realmente bom, ou então a cunha intercede uma vez mais, e pronto lá se dá o jeito. E pensam que isto de ser jornalista é fácil?
Não, meus queridos! Então e os dias em que se trabalha sobre uma enorme pressão e ninguém nos dá a informação que precisamos? E quando se sai mais tarde e lá se vai o jantar com aquela pessoa que está na nossa mira e que só cá vem uma vez por mês?
E quando se atura verdadeiras secas, de discursos chatos, com palavras caras e indecifráveis, que só servem para encher papel?
Isto de ser jornalista e de se estar na profissão da moda não é fácil! Gente interessante, e outras tantas que disfarçam mal a sua ignorância, entrevistas com pessoas que apenas sabem soltar monossílabos, situações comuns e que por estarem centradas no Dr. X ou no Eng. Y lá se tem que ir fazer a cobertura do acontecimento, são os traços das tendências da moda! (Já imaginaram se apostar na licenciatura da mais velha profissão do mundo começa a ser a nova moda???)
Claro, que também há muita coisa boa e louvável no mundo do jornalismo e da pseudo liberdade de expressão, mas para se alcançar isso é preciso muita garra, persistência, trabalho duro e um anjo da sorte, que nem sempre temos o privilégio de conhecer.
Por isso, e antes de seguirem as modas, pensem bem antes de darem esse passo. É que ser jornalista é muito mais que fama, festas, liberdade de horários e farra. Por falar nisso, tenho que me despachar porque os acontecimentos urgem e não esperam que nós lá cheguemos. (Pronto, lá se vai o café maravilha com o borracho que me ligou ontem…)