Crónica: Aprender a falar Português

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Aprender a falar português
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Não é fácil falar português correctamente, sim é verdade! Mas, se não formos nós a dar o exemplo aos outros quem o vai dar? Os veraneantes que deixam os estrangeirismos na nossa língua?

Aprender a falar Português

Decidi hoje falar sobre um tema polémico: a língua portuguesa! Apesar da nossa língua ser um pouco traiçoeira, já dizia o Herman José, a verdade é que há uma grande percentagem de portugueses que pura e simplesmente não sabe falar português, a sua língua materna.

A pensar na ignorância verbal que por aí se constata, ou talvez não, foi lançado na semana transacta o ‘Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea’. Fruto de doze anos de árduo trabalho, a Academia de Ciências de Lisboa conseguiu finalizá-lo, escolhendo o Salão Nobre desta instituição para assinalar o seu lançamento.

O dicionário, desta vez, já conta com as letras de ‘A’ a ‘Z’, o que representa um marco histórico dado que não se conseguia passar da letra A, segundo os seus autores. Talvez o ‘A’ seja muito grande, pesado, um entrave para a evolução normal do nosso abecedário, ou então algum recalcamento ou trauma de infância. Não sei! O que eu sei é que mais vale tarde que nunca, e que este dicionário pode ser a salvação, se é que essa ainda é possível, para muito boa gente.

Sim, porque as calinadas que se soltam da língua dos portugueses são algo fora de série. Mas, será que não estiveram na escola? E, até uma pessoa com conhecimentos mínimos chega a falar e escrever melhor do que os recentes detentores de canudos!

A verdade é que as bácoras são mais que muitas, quase impensáveis, mas infelizmente existentes. Se virmos com atenção algumas revistas, fiquem descansadas que não vou aqui citar nomes, os erros de português aglomeram-se imperdoavelmente. Mas, o pior de tudo, é ouvir o português a ser exprimido oralmente: ‘Prontos’; ‘pá’; ‘destrocar dinheiro’; ‘agente’, etc e tal, são termos correntes nos dias de hoje, em qualquer sítio, seja o Sr. Dr. a proferi-los ou ali o sapateiro da esquina.

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E, se lhes pedirmos um ditado, daqueles que as professoras na primária me mandavam fazer, então aí é que, como diria o dicionário do calão português, ‘a porca torce o rabo’! Escrever o ‘há’, sem ‘h’, separar palavras que não têm hífen, não colocar acentos, colocar mal o verbo, entre tantos outros erros crassos, o melhor mesmo seria convidá-los a fazer novamente os primeiros anos de escola.

Porém, atenção a um aspecto! Se, se fala mal português no nosso país, é preciso ter em atenção que o mesmo não acontece no que diz respeito aos chamados estrangeirismos (aliás, este dicionário contempla para os leitores 750 estrangeirismos).

Palavras como stress, in/out, briefing, web designer, bué entre tantas outras expressões, fazem parte do quotidiano social português. As ‘tias’ da nossa sociedade, e não só, gostam sempre de soltar a típica palavra ‘stress’: ‘Ai, aquilo foi um stress!’. E, a moda pegou tão forte que toda as pessoas já a utilizam!

Mas, se lhes perguntarmos o que quer dizer a palavra ‘recalcamento’, ‘ilação’, quem escreveu ‘Os Maias’ ou quem foi Marcelo Caetano, elas certamente pensarão que é algum centro comercial novo, isto para as tias, um bar novo, para os jovens, e um novo modelo da Ford , para os homens!

Espanta-me como há tanta ignorância relativamente à língua portuguesa no nosso país e, mesmo assim, as pessoas não tomam consciência disso. Na realidade, as únicas coisas verdadeiramente importantes são as roupas da moda, os penteados, os jogos de futebol, as ‘mariquices’ nos carros (leia-se carros e não escarros), e a vida do vizinho que, em situação nenhuma, pode ser melhor que a nossa.

Isto já para não falarmos da hipocrisia nacional relativamente à identificação e ao curriculum dos nossos escritores, mas se falarmos do escritor Paulo Coelho, aquele que está nos tops mundiais e que apresenta filosofias transcendentais, aí todos sabem de quem se trata.

Bem que podiam fazer um dicionário actualizado de bolso para os incultos do nosso país. Uma coisa leve, para não cansar muito as vistas, e com informações básicas da língua portuguesa. Assim, não teríamos que assistir à burrice a que tantas vezes, eu e todos nós, somos obrigados a presenciar.

Pena que não haja um padrão exterior para estes ‘mestres’ da cultura portuguesa, pois assim a sua identificação seria bem mais simples e evitavam-se encontros imediatos de 1ª classe tirada à martelada. Por isso é que pessoas mais velhas, dos seus 50 e tal anos, me dizem que os jovens hoje em dia não sabem nada de nada e que no tempo deles é que ‘aquilo’ era ensino.

Pois é, acreditem que cada vez mais assino em baixo a ideia de que os jovens de hoje em dia não sabem nada de nada. Ou melhor, até sabem! Conhecem as drogas da moda, as marcas de cerveja todas, os nomes das bandas da música da atualidade, são mestres da Internet e dos chats, sabem indicar de cor a sua preferência no que diz respeito aos preservativos preferidos, conhecem quase todas as posições sexuais, e são eles que mandam nos ginásios nacionais.

E o português onde fica? Perdido em algum baú velho, empoeirado, gasto, onde só os padrões dominantes da moda, mais estrangeira que nacional (porque para eles o nacional não é bom!), têm permissão para se instalar.

Aconselho a uma grande parte da população a leitura exaustiva deste dicionário! Melhor ainda, leve-o sempre consigo! Mas, se entender melhor o que eu quero dizer ao utilizar uma das expressões do nosso presente abrasileirado, eu repito de outra forma: ‘Não desgrude dele!’. Do dicionário, claro! (a língua portuguesa é mesmo traiçoeira!)

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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