O que vê a Mulher Portuguesa quando olha para o espelho? E o que vêem os outros quando olham para ela? Em que características pegaríamos se tivéssemos de elaborar um protótipo? Vamos fazer um auto-retrato da Mulher Portuguesa.
Estas são questões um tanto ou quanto absurdas quando as encaramos fora de contexto. Mas por razões óbvias o caso aqui é diferente. A questão interessa-nos, quanto mais não seja porque somos o seu objecto central.
Auto-retrato da Mulher Portuguesa
Não queremos um perfil da consumidora, nem da mãe, nem da esposa, nem da dona-de-casa. Queremos realmente perceber quem é a Mulher Portuguesa enquanto mulher.
Se perguntarmos a um estrangeiro, provavelmente descobrimos que, para além de pertencermos a um rancho folclórico, temos bigode – a nossa projecção internacional não vai muito além disto. Se perguntarmos a um homem português concluímos que somos todas perfeitas, desde que não sejamos a mulher dele.
Se for esse o caso, o melhor que conseguimos será talvez uma boa classificação no que toca aos dotes de cozinheira.
O pior é que se perguntarmos umas às outras a resposta também não se aproxima da verdade. Ficamos reduzidas a duas hipóteses: Descobrimos que somos umas super-tias de cabelo pintado, com um nome de 15 palavras reduzido a Tatá, Lili ou coisa parecida.
Temos um guarda roupa capaz de reproduzir as ruas da Baixa em época natalícia, um carro de muitos cavalos que conduzimos como umas burras, e uma vida social agitadérrima, que nos impede de trabalhar ou simplesmente de educar os filhos.
A segunda hipótese não é mais lisonjeira: somos umas donas-de-casa exímias, e sabemos de cor as flutuações dos preços do arroz e das batatas. Vestimos saias pelos joelhos com blusas rendadas e usamos um saco de plástico como acessório da imitação Louis Vuitton que trazemos ao ombro.
A vida social passa por bailaricos com música pimba, mas pode ser substituída de bom grado pela programação da SIC. A nossa preocupação permanente é que haja sempre quantidades industriais de comida para por à frente do marido e dos filhos, seja a que horas for.
Perguntamos, então, se não haverá uma imagem alternativa, ou mesmo um meio termo com que seja mais fácil identificarmo-nos. Há, é óbvio que há. Há a imagem de uma mulher moderna, uma mãe emancipada capaz de viver tanto para si como para os outros.
Alguém que acompanha o tempo em todas as vertentes, investe na carreira tanto como na família e sabe cuidar-se e sentir-se mulher. O mal é que esta imagem só nos aparece no espelho, nunca nos olhos dos outros.
Mas neste caso só é cego quem não quer ver, e se preferem continuar a imaginar uma dançarina de bigode, azar! Não sabem o que perdem.