Dia Europeu sem carros, comemora-se a 22 de Setembro

1960
Dia Europeu sem carros
Dia Europeu sem carros
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O Dia Europeu sem Carros já passou! Diferenças registadas depois dessa data? Nenhumas! As pessoas deixaram a viatura á porta de casa, e vieram para os seus trabalhos de transportes públicos. Todavia, e como uma sexta-feira de folga até calha mesmo bem, muitas foram as pessoas que optaram por não ir trabalhar nesse dia, 22 de Setembro.

Dia Europeu sem carros

Em Lisboa, o ambiente era de um silêncio quase total! Não se ouviam as típicas buzinadelas, as travagens irritantes, os motores estridentes dos automóveis e das motas. Quanto muito escutava-se o entoar dos autocarros, única referência de avanço dos tempos, em cidades onde o progresso não aparentava ter chegado ainda, e a velocidade eloquente dos senhores taxistas, tão característica nesses condutores. Nada mais! Bicicletas, patins, trens a cavalo, como foi o caso da vila de Sintra, ou o passo coordenado para se chegar a horas ao trabalho, eram os únicos registos móveis de assinalar.

Lisboa, nem parecia Lisboa! Tudo andava à vontade peões, e os carros que eram permitidos circular, e as filas intermináveis que se esperavam para apanhar os meios de transporte, devidamente reforçados, não eram assim tão assustadoras.

Por isso, não se percebe porque é que uma boa quantidade de portugueses achou louvável não ir trabalhar. Este facto por si só reflete a necessidade que os portugueses têm de andarem confortáveis e cómodos, com a música da moda em altos berros, a ler as gordas do jornal enquanto o sinal não fica verde, e a insultarem-se logo de manhã por coisas banais e, muitas delas, perfeitamente vulgares e evitáveis.

Contudo, a adesão a esta iniciativa foi quase plena! Ministros, personalidades e figuras públicas deram o exemplo, e se eles dão, os cidadãos comuns também devem fazê-lo! Afinal, segue-se sempre o líder! De Metro, Comboio, Autocarro ou Táxi, as oportunidades de chegar ao destino eram várias, mas o típico português pensa assim: Eu quero lá saber!

Então comprei o último modelo da Audi e agora vou deixá-lo à porta de casa? Então e as colunas que o automóvel agora tem? Já para não falar que vou ter que ir apertado, num transporte qualquer, a levar com os cheiros das pessoas, e ainda por cima tenho que amarrotar o fato novo! Fico mas é em casa! Este é o português que ostenta o luxo, e que julga que andar de transportes públicos equivale a pobreza e a uma condição social inferior…

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Outro factor que merece o devido comentário foram as pessoas que, também elas preocupadas com as filas, embora adoptando uma postura oposta, decidiram ficar em Lisboa na noite de Quinta para Sexta-Feira. Quem quisesse permanecer num hotel nessa noite era tarefa impossível, pois os hotéis de 4 e 5 estrelas (porque os de 3 estrelas equivalem a um nível muito baixo) estavam totalmente cheios, chegando mais tarde a situação a verificar-se também nas pensões (Que rasca! – pensariam alguns). Nas restantes cidades e vilas que aderiram a esta iniciativa, pois da lista oficial apenas faziam parte seis cidades e uma vila, a enchente dos hotéis não se fez sentir com tanta intensidade.

817 cidades europeias, mais as sete portuguesas, e sem contar com os outros locais não oficiais (sem dúvida um acto discriminatório), fizeram deste Dia Europeu sem Carros um dia louvável e inesquecível de paz e silêncio. Mas esta iniciativa que merece o nosso aplauso, em nada vai mudar o dia-a-dia dos portugueses.

Na Segunda-feira o caos volta a instalar-se nas artérias da cidade de Lisboa e nas de todo o país, e a situação em nada vai melhorar. Dias como estes deviam ser mais vezes repetidos, de maneira a educar as pessoas para o uso de transportes em vez dos seus meios pessoais.

Portugal nunca viveu um dia tão silencioso como este, no qual a vida prosseguiu normalmente, sem contar com os que não foram trabalhar, e onde até as individualidades pareciam cidadãos comuns. Poder-se-á dizer que este foi um dos dias no qual imperou a verdadeira igualdade de direitos e de condição social. Todas as outras formas de apregoação a este máxima são meras palavras rasuradas na mente, que os manuais comprovam, mas que a prática desmente!…

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