O facto de se cobrar uma taxa por cada vez que se utiliza o Multibanco parece ser a maior anedota alguma vista em Portugal Os contornos da história não poderiam ser mais desfavoráveis. Para quem? Para os utilizadores, óbvio!
Multibanco com aplicação de Taxa
Há algum tempo que se tem vindo a falar na possibilidade dos bancos começarem a cobrar uma taxa por cada vez que se utiliza o Multibanco, seja para levantar dinheiro, ver o saldo, pagar a água ou luz. Qualquer operação naquela máquina “maravilha” que revolucionou, no sentido positivo, a forma dos cidadãos gerirem o dinheiro, e que auxiliou a reduzir substancialmente o trabalho dos bancários, terá que ser paga do bolso do utilizador.
Não é que eu seja muito do tipo de pessoas de utilizar sistematicamente o Multibanco, por tudo e por nada, exceptuando quando necessito de dinheiro, mas reconheço que não me agrada muito estar a vê-lo, ao dinheiro, a sair da conta, paralelamente a mais uma parcela.
Parcela essa que eu não dei autorização para levantarem, que conquistei por mim mesma, e que agora me vejo obrigado a perder por cada operação que efectuo no Multibanco!
Julgo que se são criados os serviços gratuitos para depois os começarem a cobrar (qualquer dia teremos que pagar uma taxa por irmos sentados nos transportes públicos, ou por conversarmos no meio da rua, ou qualquer coisa do género), mais vale nunca os rotularem como tal. O que, provavelmente, os senhores à frente dos quadros superiores dos bancos não sabem é que nós, meros utilizadores, podemos boicotar esta situação. Não há operações no Multibanco, e não há taxas para ninguém!
Aglomeram-se as filas nos bancos, começam as crises de mau humor, os nervos à flor da pele, nada de saídas às 15 horas para o pessoal do banco, porque o trabalho se acumula, e certamente será um quebra cabeças para os gerentes que, face à enorme procura, se vão ver obrigados a contratar mais bancários, ou meros disfarces disso mesmo.
Um acontecimento inédito tem vindo a rodear toda esta questão. Isto porque, governo que seja realmente um governo, ou seja, que siga os padrões normais, costuma estar a favor das entidades e numa posição oposta aos cidadãos.
Neste caso, as coisas não se processaram bem assim. O ministro adjunto do Primeiro Ministro, por exemplo, veio a público contrariar os desejos dos bancários. O que para os bancários foi um verdadeiro balde de água fria, e para nós um copo de champanhe (nada de espumante, porque o champanhe é caro e o apoio dos membros do governo só acontece de tempos a tempos).
Se em países como o Reino Unido ou a Bélgica a dita taxa existe, mas os bancos não a aplicam, porque é que num país onde não existem tantas pessoas assim a beber champanhe ou a comer caviar (afinal o espumante e o chouriço Nobre vão dar ao mesmo) se vai aplicar a dita taxa? Poupem-nos!
Notei, contudo, que havia aqui um pormenor interessante: nem todos os bancos são defensores da aplicação desta taxa de utilização. O Banco Espírito Santo e o Banco Comercial Português defendem a referida taxa, mas a Caixa Geral de Depósitos e o Grupo Banco Totta e Açores afirmaram que não pretendem ir avante com esta aplicação.
Este panorama permite-me pensar no seguinte: ou os dois primeiros grupos não andam a ver com muitos cifrões os seus lucros, ou os restantes dois últimos não ligam a “ninharias”, e preferem usar esta aplicação da taxa como um ponto a reverter a seu favor.
Elitismo nos bancos? Uns são do povo outros de classes sociais mais elevadas? Bom, e segundo um amigo meu bancário, a Caixa Geral de Depósitos é o “banco do povo”, mas isso podem ser meras especulações bancárias, até porque a unanimidade entre todo o sector bancário nunca foi muito visível.
Meus amigos, a tarefa de fazer com que os bancos voltem atrás nesta decisão, que podia ser considerada como um “roubo sofisticado em pequenas parcelas” (belo título para um filme ou para um manual) vai ser árdua. Mas, a verdade é que já nos estamos a precaver.
Exactamente por isso é que correm diariamente na Internet inúmeros e-mails (pelo menos a mim bombardeiam-me a caixa de correio) a expor a situação, e a apelar a todas as pessoas para deixarem de usar o Multibanco e dirigirem-se ao banco para levantar dinheiro, nem que seja a módica quantia de 1000$00, isto quando esta taxa fizer parte da realidade e não se traduzir apenas num simples desejo.
Querem-nos levar o dinheiro todo, não há dúvida! Qualquer dia pagamos para ir deitar o lixo ao contentor, por pedirmos um copo de água no café, ou estarmos sentados num banco do jardim. Tudo serve de desculpa para levarem mais uns tostões!
Repare bem como é a mente humana: primeiro facilitam-nos a vida, dão-nos a possibilidade de levantar dinheiro, como também de realizar inúmeros pagamentos, e de uma hora para a outra decidem cobrarem-nos tudo isso. Faz-me lembrar, e agora divagando um pouco, a história da menina à qual lhe dão uma boneca, aquela que ela mais quer, e depois alguém lha estraga. Não lha tiram, porque ela continua lá, mas já não está como quando lha deram!
O que acontece neste caso é mais ou menos idêntico, num plano completamente diferente, mas com consequências semelhantes. Oferecem-nos a mordomia e muito tempo depois, quando já ganhámos uma ligação com a mesma, vemo-nos obrigados a pagar por ela.
Aliás, com certeza que há muito boa gente que vai mais vezes à caixa Multibanco do que ao médico, que passa lá mais tempo do que com aquele parente ao telefone, ou que observa com maior atenção aquilo que ela lhe fornece, o dinheiro e o extracto da conta, do que propriamente o mundo à sua volta.
Mais grave ainda é o facto de um dirigente bancário ter vindo a dar a conhecer as suas ideias face a esta questão, chegando ao ponto de referir que este poderia ser um problema resolvido por escalões. Assim, “o primeiro escalão seria gratuito para um curto número de operações por mês; o segundo escalão corresponderia a uma taxa correspondente à chamada telefónica; e um terceiro escalão teria o custo real do serviço para quem abusa do sistema do Multibanco”.
Uma divisão que com certeza não agrada a grande parte da população. Imagine-se alguém a “abusar do sistema”, como se fosse possível abusar-se de algo que é público e ao qual todos têm direito! Uma chamada de atenção particular para o facto de que se esta medida for avante as pessoas vão optar por levantar grandes quantias de dinheiro, o que para os ladrões/gatunos/ assaltantes, como queira, será quase como que uma “oferta dos deuses”.
Se daqui a um tempo vir filas intermináveis nos bancos não se assuste: é que o pessoal vai levantar 2.000$00 para o almoço, mas amanhã não convém chegar tão tarde porque o ritual voltar-se-á a repetir! Ai, ai, boicotes a quanto obrigam…
Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante