Crónica: Os companheiros inseparáveis da condução

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Cronistas da MulherPortuguesa
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Os companheiros inseparáveis da condução: De facto, só em Portugal. Só mesmo neste país à beira do Atlântico e com fronteira espanhola é que um homem pode ser ‘apanhado’ a conduzir e a fazer a barba ao mesmo tempo.

Os portugueses não existem! Possuem um nível de criatividade e de imaginação tão elevado que me espanta, muito sinceramente, que não façam invenções milagrosas para o bem de todos nós.

Os companheiros inseparáveis da condução

Tudo o que chega a Portugal tem sempre a assinatura de outros, facto que a mim me espanta, pois sou diariamente confrontada com notícias de um teor imaginativo brilhante, ou não fosse esse conteúdo verdadeiramente inseguro para os seres humanos e para a integridade física de todos nós.

Na Sexta-feira tomei conhecimento de uma notícia verdadeiramente hilariante e que, indubitavelmente, só poderia mesmo acontecer no nosso país. Um homem havia sido apanhado a conduzir e a fazer a barba ao mesmo tempo. Inacreditável!

Ainda tive que pensar duas vezes antes de escolher este assunto para a crónica semanal da Mulher Portuguesa, mas como ultimamente somos bombardeados por notícias catastróficas, e que nos deprimem por um bom tempo, julguei que seria melhor debruçar-me sobre esta peripécia automobilística.

Certamente esta era uma pessoa muito atarefada, com sérios afazeres, e que vive longe do local de trabalho. Enfim, um típico português que deixa tudo para a última da hora!

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Eis que fiquei logo a imaginar a situação, enquanto pensava ironicamente sobre aquilo que se pode fazer enquanto se conduz. Fazer a barba é de facto inédito, digno de um recorde do Guiness ou de uma estátua ali bem no meio do Cais do Sodré, com todos a baterem palmas por este feito heróico.

E, depois, as estradas do nosso país são más, o pavimento está cheio de buracos, não há sinalização adequada, e por aí adiante. Tudo correcto, sem dúvida! Mas, esquecem-se de falar da falta de bom senso dos condutores, das distracções, do álcool, das ultrapassagens mal feitas, do excesso de velocidade, etc, etc, etc.

Não se pode deitar as culpas somente a quilómetros de alcatrão e à sinalização das estradas, como temos também que analisar a consciência da condução que rege os condutores de Norte a Sul do país.

Deitar as culpas somente em cima de uma das partes, e fazer da outra um santuário inviolável e isento de culpas não é a melhor alternativa.

Sempre podemos ridicularizar o ridículo que a situação só por si demonstra. Por isso, podemos imaginar, em traços gerais, o que os condutores fazem enquanto conduzem. Eu, pessoalmente, já assisti a coisas bem hilariantes quando, curiosamente, vislumbro, pessoas em carros ao lado do meu.

Desde pessoas com a boca no seu expoente máximo de abertura a comerem sandes enormes (se tiver maionese, ou outro molho do género, o cenário é ainda mais caricato), a outros que optam por fazer a sua limpeza diária ao nariz, numa discrição tal que parece retirada de um dos livros protocolares das regras da boa educação e do bem estar, ou ainda senhoras que, apressadas que estavam ao sair de casa, não tiveram tempo de se maquilharem devidamente.

Porém, as coisas que se podem fazer ao volante não se ficam por aqui. Há ainda aqueles que optam por arranjar as suas unhas pela manhã (já imaginou se uma unha salta disparada do carro que está ao nosso lado para o seu colo), como ainda existem os outros que aproveitam para colocar a leitura em dia com o jornal ou a revista (será que o Vale e Azevedo foi ilibado? E a Cinha Jardim já reatou com o Santana Lopes ?).

Desde puras coscuvilhices a factos da actualidade tudo vale uma boa leitura matinal ao volante do automóvel. Isto tudo acompanhado do típico cigarrinho, que é barato e não faz mal nenhum à saúde. Além de ser algo já banalizado, o cigarro pode provocar distração ao condutor e, quem sabe, provocar mesmo um acidente.

Conduzir deixou de ser aquele acto puro de há anos atrás. Os carros são melhores, a velocidade é bem mais visível, e as distrações são também muito mais vastas. Mas, não poderia deixar de falar do companheiro inseparável da condução para além do cigarrinho: o telemóvel.

Ao fim da tarde, é vê-los a falar ao telemóvel para onde quer que o nosso olhar se dirija (se bem que não é preciso olharmos para os automóveis para vermos semelhante cenário).

Fala-se com a namorada (qual delas?), com o amigo que conta uma coscuvilhice incrível ou com aquele colega, que há muito não se vê, para se marcar a data do tão desejado jantar.

Depois desliga-se o telemóvel, mais um cigarro, e eis que os nossos ouvidos são violados incessantemente tal é a discoteca móvel que se instalou mesmo ao nosso lado. Por momentos, até pensamos que estamos nos carrinhos de choque de uma feira qualquer, embora o cenário seja mesmo a ponte 25 de Abril.

Como vê, o seu carro pode servir para inúmeras coisas: uma discoteca ambulante, um local de coscuvilhices, um restaurante, barbearia, manicura, santuário para fumadores, sala de leitura, uma cabina telefónica, ou até mesmo um motel.

Mas, este último nunca presenciei em andamento, o que não quer dizer que não haja malucos para isso. Agora, se me falarem em carros à beira da estrada, ou parados por essas matas fora, isso já é outra conversa. Desde motéis repugnantes, a cair aos bocados, até hotéis de luxo de 5 estrelas, tudo é possível encontrar sob a forma de automóvel.

E, quem diria que este meio de transporte era tão polivalente, com funções tão diversificadas, que tudo, ou quase tudo, podia ser feito com ele em andamento mas, e principalmente, com o travão de mão bem puxado.

Há com cada uma que me deixa totalmente boquiaberta! Esta ‘barbearia no automóvel’ foi uma dessas tais coisas. Como diria o nosso grande Fernando Pessoa: ‘E esta, hein?’.

Cronista da Mulher Portuguesa: Ana Amante

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