Crónica: Pimba 2000

1968
Cronistas da MulherPortuguesa
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Já não sei ao certo quando foi que começou a invasão do território português pelo estilo pimba. Há uns quatro ou cinco anos, talvez, Emanuel teve um momento único de inspiração ao escrever uma música e uma letra que não só reúne todas as características do estilo como também serviu para baptizar este fenómeno que marcou a identidade portuguesa na viragem do século. Marcante, não?

Pimba 2000

Nós Pimba” deixou de aplicar-se apenas aos protagonistas do poema de Emanuel para passar a ser adoptado em peso e na primeira pessoa pela população portuguesa. Sim, porque de uma maneira ou de outra, todos nós… pimba! Ninguém pode dizer “eu não”, ninguém mesmo.

Mas agora, se repararem, estamos a entrar numa nova era pimba. Chamemos-lhe Pimba 2000. Nesta nova era, o estilo pimba destaca-se do pimba original através do evidente esforço de sofisticação a que recorre.

A tentativa de transformar o pimba em algo com classe passa por todos os aspectos possíveis e imaginários.

São os video clips cada vez mais hi-tech: mesmo quando a música fala do regresso do emigrante ou da traição do marido, lá estão os jogos de luzes, os efeitos especiais, horas por trás de uma mesa de mistura.

O visual dos protagonistas mudou radicalmente: em vez do cabedal lustroso, lantejoulas, decotes e bijuteria em excesso (nas mulheres) e da calça branca (a condizer com a meia), da camisa aberta e dos cordões de ouro (nos homens), passámos a ver cabelos cuidadosamente penteados (nos homens e nas mulheres) em forma de capacete sustentados por industriais doses de laca.

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Maquiagem mais discreta – à excepção dos batons vermelhões -, um guarda roupa menos colorido, menos espalhafatoso e a puxar para o erótico-chique (as rendinhas, os saltos altos, as saias de racha…) são hoje em dia a imagem das cantoras “populares”.

Os fatos a imitar Hugo Boss e design italiano, mas que na versão Pimba 2000 aparecem em cores pouco normais como o cinzento azulado e o rosa clarinho, são a imagem masculina.

A atitude Pimba 2000, tanto dos artistas como do público, deixou de ser a de fim de semana na feira popular para ser mais estilo domingo à tarde no Parque das Nações. Muda o cenário, mas o espírito permanece o mesmo.

É que o Parque das Nações é mais fino, e ser-se parolo num sítio fino é melhor do que ser-se parolo num sítio parolo. Pimba é como o fado, a saudade, o Mosteiro dos Jerónimos, as tripas à moda do Porto e os Madredeus. Pimba só existe em Portugal.

Cronista da Mulher Portuguesa: Patricia Esteves Nunes

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