Crónica: Um bilhete de cinema. Já até me tinha esquecido do porquê de não ir tantas vezes ao cinema quantas as ofertas de bons filmes surgem. Ultimamente tenho limitado as idas aos visionamentos, onde numa sala chegam apenas a estar dez jornalistas.
Um bilhete de cinema
Mas, a convite de um amigo, fui a uma sala de um grande centro comercial, e logo à entrada todo o meu ódio por estes recantos sombrios fez saltar o meu coração assolapado. E a razão não era para menos. Apesar de gostar de animais, não os suporto muito grandes e quando as luzes se apagaram, começou o desespero…
É que, ao invés de estar a ver uma fita no silêncio de uma sala de cinema, mais parecia estar num estábulo, rodeada de criaturas ruminantes e mugidoras. Eram as pipocas mastigadas ruidosamente, com a boca aberta e fazendo estalar o milho, eram os pacotes de batatas abertos com estrondo, eram os invólucros de chocolates a tocar em música de fundo, era o desespero de quem ama o silêncio. Isto quanto aos ruminantes.
Em relação às mugidoras, eram as conversas de pé-de-orelha com o parceiro, os berros cada vez que uma cena parecia mais assustadora e os sussurros e guinchos de gente para quem a palavra silêncio só deve existir nos livros que não lêem.
E como se tal não bastasse, eis que, nem de propósito, surge o inseparável companheiro dos nossos dias: o telelelé. Esse mesmo, pois então, podia lá o aparelhómetro faltar à festa? É que nem mesmo os aviso antes do filme ter início para desligar o bicho parecem surtir efeito em pessoas que se julgam de tal forma indispensáveis aos outros (pena que seja só por aqui) que não levam em conta tais avisos.
E houve mesmo o desplante de atender o telefonema no meio de uma cena, ou de deixar tocar por duas vezes, o que me levou a ser também mal-educada e lançar um para o ar: ‘Não sabes que essa porcaria tem um botão para desligar?’
Caros leitores, desta é que fiquei decidida: cinema só em casa, com ecrán panorâmico, uma cassete de vídeo alugada e o silêncio do meu lar. Pelo menos enquanto os cinemas estiverem abertos a “animais de duas patas”, porque é certo que companhia animal apenas desejo a dos meus gatos, e diz-mo a experiência, os meus amigos peludos de quatro patas sabem comportar-se a ver um filme. E chamam-lhes a eles animais…
Cronista da Mulher Portuguesa: Maria do Carmo Torres