Maria Barroso, uma mão cheia de solidariedade

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Maria Barroso
Maria Barroso
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O seu segundo nome podia ser Solidariedade. Maria Barroso, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, confessa a enorme revolta perante “crimes contra a Humanidade só comparáveis aos que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial”.

Conversa com Maria Barroso

São dez da manhã e o átrio do Colégio fervilha de actividade. É a hora do recreio, a hora das correrias, das gargalhadas, das alegrias. Alunos de todas as idades passam por mim, sempre com um sorriso nos lábios, alheios ao motivo que me trouxe até ali.

Para esta hora, tinha combinado encontrar-me com Maria Barroso, a presidente da direcção do Colégio, há muito propriedade da família.

Entro para uma pequena sala de espera e, minutos depois, surge Gabriela, a secretária. Elegante, de tailleur discreto, convida-me a acompanhá-la. Uns metros à frente, abre-me a porta de um pequeno gabinete.

À minha frente, tenho Maria Barroso. Saúda-me, convida-me a sentar. Mas os meus olhos prendem-se numa série de fotografias de família, num recanto do gabinete, bem ali ao nosso lado.

Reconheço o casal Soares, Mário e Maria de Jesus, os filhos, Isabel e João, e o pai de Mário Soares, numa imagem maior que todas as outras, na sua condição de patriarca.

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Deito ainda um olhar à discreta decoração deste “cantinho” que, por qualquer motivo que não sei explicar, me faz lembrar um pequeno refúgio.

Cruz Vermelha Portuguesa

Timor é o principal tema da conversa com Maria Barroso. De ar grave e sério mas, ao mesmo tempo, afável, esta mulher, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, define-se como “uma lutadora”, “uma mulher de causas”, a “primeira voluntária” da CVP.

A expressão de Maria Barroso altera-se por completo, quando falamos de Timor Loro Sae. Não consegue esconder a “revolta perante os crimes cometidos contra um povo que não teve outra culpa”, senão a de querer ser senhor do seu próprio destino e que votou, de uma maneira corajosa” nesse mesmo sentido.

Os olhos “brilham” de tristeza, ao declarar-se “angustiada, comovida, revoltada pelas cenas que foram postas diante dos nossos olhos (…) São cenas que mostram até que ponto a irracionalidade pode ir”. O que se passa é que Timor só é comparável ao “que se passou durante a segunda guerra mundial”, aos “crimes que foram praticados contra a Humanidade e que pensávamos completamente exorcisados”.

Uma prova de que, afinal, “o Homem evoluiu no campo da tecnologia e da ciência, mas do ponto de vista humano, não evoluiu suficientemente”.

Maria Barroso não esconde as críticas à comunidade internacional pela lenta reacção ao que se passa em Timor. Uma questão de interesses, sublinha. Económicos, políticos, diversos. “Se a América demorou em dar o sim à intervenção, quando não tinha demorado quando se tratou do Kosovo, isso significa que esses interesses pesaram bastante”.

Ainda assim, a presidente da CVP acredita que a Interfet chegou a tempo, “apesar das muitas vidas que já se perderam”.

Quando o tema é Timor

Agora que o sol da esperança começa a brilhar em Timor, Maria Barroso confessa-se muito preocupada com a situação dos refugiados, sobretudo com os que estão no lado ocidental da ilha, o Timor indonésio. Ainda assim, acredita que a presença, “tão perto, das forças das Nações Unidas, da Cruz Vermelha Internacional, torna o cerco tão grande que eles já não podem esconder e perpetrar tantos crimes” como antes.

Mas, afinal, o que é que nós, comuns mortais, podemos fazer por Timor Loro Sae? Maria Barroso explica que, de Portugal, seguiram já “uns largos milhares de contos”. Sublinha que é mais eficaz mandar-se dinheiro “porque o transporte de alimentos e medicamentos é tão caro, que é preferível enviar dinheiro”.

Depois da ajuda imediata, a reconstrução é a primeira prioridade. Para isso, tem já em mãos alguns projectos, nomeadamente, em colaboração com os Jesuítas e com o Comissariado para a Transição, presidido por Vítor Melícias. Um dos planos é criar “uma instituição que possa receber crianças, onde elas possam ser tratadas, acarinhadas, acompanhadas… são crianças que assistiram a cenas inacreditáveis… à morte dos próprios pais… e que estão muito fragilizadas psicologicamente”.

Na mesa, Maria Barroso tem também o lançamento, através da recém-criada Fundação Pro-Dignitate, a que preside, de uma campanha nacional. “Vou pedir ao país inteiro que nos mande material escolar, para as crianças que hão-de voltar para as escolas, depois de reconstruídas, e que não têm… um lápis, uma borracha, papel, um livro, uma gramática, um dicionário… isto, para eles, tem uma importância monumental!”.

Nos planos de Maria Barroso, está também uma ida a Timor. Quando, é coisa ainda por definir, uma vez que o visto ainda não foi concedido.

A presidente da CVP considera-se “relativamente preparada” para o cenário que vai encontrar. Mas a verdade é que ” nunca sabemos como reagimos. Uma coisa é dizer aquilo que queremos fazer; outra é ser-se confrontado com a realidade nua e crua” e, muitas vezes, “não temos mão nas nossas emoções”.

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