A Mulher Portuguesa foi conhecer mais uma da recente escritora portuguesa da nossa praça. Maria Teresa Loureiro escreveu ‘Um Olhar Mil Abismo’, e nós fomos conhecê-la melhor.
Maria Teresa Loureiro tem 36 anos, casada, uma filha com cinco anos, e há nove anos que trabalha na SIC. Escreveu o seu primeiro livro ‘Um Olhar Mil Abismos’, lançado em Dezembro do ano passado pela Editorial Presença. Quisemos conhecê-la um pouco melhor, e foi no Centro Comercial Amoreiras que passámos um bocado à conversa com este novo rosto da Presença. Com o curso de Literaturas Modernas e outro ligado à Literatura Portuguesa, este último tirado no Instituto Franco-Portugais, Maria Teresa Loureiro esteve desde sempre ligada à escrita, sendo proveniente de uma família que lia muito.
Dos tempos em que escrevia somente para si, Maria Teresa Loureiro recorda: ‘Sempre escrevi, especialmente nas alturas em que estava em baixo ou com algum problema. Escrevia sobre sentimentos, pensamentos, estados de espírito. Não me imagino a escrever sem ser sobre sentimentos, ou a escrever algo com diálogos.’ Relativamente aos tempos universitários, Maria Teresa Loureiro declara que ‘fui para a universidade para ser escritora, mas acabei por o não ser. Acabei por desistir, saí, fui tirar um curso de estilismo, na altura da mania das modas, depois voltei para a universidade para acabar o curso’.
O seu percurso profissional é vasto, como a nossa entrevistada nos contou: ‘Comecei por trabalhar no Festival de Tróia, onde era assistente e intérprete do júri internacional, trabalhei também na RTP, num programa do Eduardo Geada, e estive em muitos sítios, como foi o caso da Lusomundo ou da Livraria Barata’. Sem nunca ter estado ligada ao jornalismo, a sua área foi sempre a da redacção publicitária, à excepção da livraria Barata, até chegar à SIC. Quanto ao seu trabalho na estação de Carnaxide, Maria Teresa Loureiro esclareceu-nos que ‘estou há nove anos na SIC, agora no projecto da SIC Online, mas ligada ao departamento de informática. Antes de estar neste departamento tinha estado na área comercial, e na grelha, e só depois passei para o departamento de Informática.’
Quanto à escrita e a este seu começo literário, marcado pelo livro ‘Um Olhar Mil Abismos’, livro ao qual a Mulher Portuguesa já fez referência, Maria Teresa Loureiro sorri e conta que ‘a escrita surgiu como uma necessidade. Sempre foi uma necessidade, e eu sempre escrevia muito, normalmente quando estava em baixo. E, como eu escrevia coisas muito depressivas, achava que aquilo que eu escrevia não ia interessar a ninguém’. Relativamente ao livro ‘Um Olhar Mil Abismos’, confessou-nos que ‘este livro já está iniciado há muitos anos.
É um daqueles livros que tem muito a ver comigo, com os meus interiores, e era algo que tinha mesmo que sair. O livro tem muito a ver com a minha pessoa, e era daquelas histórias que tinha que sair. Toda eu estou naquele livro! Era aquela coisa que tinha dentro de mim e tinha que pôr cá para fora’.
‘Um Olhar Mil Abismos’ é um livro de emoções e histórias, de vida que desfilam num cenário peculiar: um café. Quisemos saber de onde tinha vindo toda a inspiração para o livro, e Maria Teresa Loureiro não hesitou em responder: ‘A inspiração vem de mim própria, da minha vida, de situações que eu passei. Aquelas personagens são, de alguma forma, baseadas em pessoas que cruzaram a minha vida’. Escrever o livro foi um passo moroso, e a nossa entrevistada contou-nos como tudo aconteceu: ‘O ano passado tive um mês de baixa, já que tive um problema complicado, e recomecei a escrever o livro, mas mesmo a sério. Consegui acabá-lo, e fiz uma história que eu não estava à espera de conseguir, nem tão pouco de publicá-lo.
O que eu queria era apenas deitar cá para fora a história. Como o meu marido o leu e achou a história engraçada, pensei em arriscar. Fizemos cópias e mandámos para uma lista enorme de editoras até porque, como trabalhei em algumas, conhecia muitas delas. Tive, quase, de imediato uma resposta da Minerva. A Presença telefonou-me mais tarde, mas quase na mesma altura, a dizer que o livro estava em leitura, e só depois me ligaram a dizer que estavam interessados.’
‘Um Olhar Mil Abismos’ foi terminado e entregue às editoras em Agosto, e no mês de Dezembro era lançado. Sentindo-se lisonjeada por uma grande editora como a Presença aceitar este desafio, Maria Teresa Loureiro revela porque não começou a escrever mais cedo algo para ser publicado: ‘A história estava toda ela na minha cabeça, só que sentia que ela era susceptível de ser considerada auto biográfica e que, por isso, podia ser perigosa.
Sentia-me demasiadamente exposta, e só agora descobri a maneira exacta para o fazer’. A curiosidade foi mais forte que nós, e quisemos saber o porquê da maioria da acção se passar num café: ‘Penso que é um local de encontro, um sítio onde todas as pessoas podem aparecer e desaparecer, entrar na vida das pessoas, e depois podem sair sem ter de fazer nada por isso, sem deixar rasto.’- segundo a opinião da autora.
Cada vez se torna mais complicado entrar no circulo da literatura portuguesa. No caso de Maria Teresa Loureiro, a escritora julga que foi também um pouco de sorte que a ajudou: ’É difícil publicar um livro! Eu acabei por ter alguma sorte, mas não foi por conhecimentos, embora pudesse ter sido. Nós distribuímos os livros, eu e o meu marido, a maioria deles não me respondeu, e a Presença respondeu-me. O que me disseram na Presença foi que eles queriam apostar nos novos escritores da literatura portuguesa, e eu fui privilegiada exactamente por causa dessa aposta, mais nada.
Acho que tive um pouco de sorte.’ Acrescenta ainda que ‘de alguma forma, há algum receio por parte das editoras em lançar um escritor novo. Se for uma editora grande tudo bem, mas se a editora for pequena as pessoas têm um certo receio em fazer essa aposta.’
O titulo do livro é, de facto, perfeito. Finalmente, após muitas sugestões, foi encontrado um nome, sugerido pela pessoa da Presença que o havia lido. Maria Teresa Loureiro julga que o mesmo se encaixa às mil maravilhas: ‘Acho que, no fundo, o título diz tudo. De facto, o livro é um olhar da narradora que acaba por entrar na vida das personagens que lhe passam à frente, acabando por se identificar, de alguma forma, com todas elas. Todas elas têm um abismo próprio, todas elas têm uma história, uma tristeza, uma paixão’.
Aquilo que Maria Teresa Loureiro pretende deste livro é algo muito humano: ‘De alguma forma, o que eu pretendo do livro é, talvez, transmitir que acho importante nós tentarmos sempre ver o que está por trás das palavras, das pessoas, ou aquilo que as pessoas possam dizer. Tentar compreender os pensamentos, as vidas das pessoas, e como é que se transformam naquilo que acabam por ser.
E, no fundo, é um livro que conta a história de um amor que não tem saída, uma paixão muito, muito profunda, que acaba, como a maioria das paixões muito fortes, por não ter uma saída muito airosa, digamos. Mas, também transmite esperança, através de umas personagens que são as velhotas, e em que uma delas até morre a uma certa altura. No fundo, a esperança da narradora é que aquela paixão, mesmo depois da morte, talvez se venha a resolver’.
Gosta de ler, desde os tempos em que vivia com os seus pais rodeada de livros, escrever, passear, viajar. Considera que nas viagens aprende-se muita coisa e é uma daquelas pessoas muito ligadas à Internet, também um pouco pelo seu trabalho no projecto SIC Online. Julga que as pessoas são cada vez mais egoístas, vivendo somente para elas, embora também por necessidade, e que há uma grande falta de gostar de conhecer outras pessoas e de as ouvir. Projectos para breve já há alguma coisa, pois tem em mãos uma novo projecto que espera entregar à Presença no Verão. Por enquanto, Maria Teresa apenas pretende escrever: ‘Escrever, só!
Agora estou à espera de ver se tenho capacidades para escrever. Sou daquelas pessoas que posso ser escritora de apenas um livro. Na altura, quando acabei de escrever o livro, achei que tinha deitado tudo cá para fora, que não havia mais nada a dizer. Mas, depois, surgiu-me outra ideia e ganhei o gosto por escrever. O meu verdadeiro problema é que achava que as coisas que escrevia não eram minimamente interessantes para ninguém ler’.
Maria Teresa Loureiro aguarda pelas reacções do público, mas até à data as coisas parecem estar a correr bem, segundo a opinião de amigos, colegas e outras pessoas. Como a editora só dá informações semestrais, Maria Teresa Loureiro não tem ainda nada de palpável para declarar quanto às vendas do livro. Visivelmente feliz e orgulhosa de ‘Um Olhar Mil Abismos’, veremos se para breve poderemos contar com mais um livro seu nas bancas. As Amoreiras ficaram para trás, e a conversa terminou em jeito de boa disposição. Mas, os sonhos do leitor e do escritor continuam a vigorar sempre, enquanto a palavra perdurar.
‘Um Olhar Mil Abismos’, um livro que Mulher Portuguesa recomenda, uma vez mais, desta recente escritora Maria Teresa Loureiro.