Falamos com Ana Bela Pereira da Silva actual Presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias e da Federação das Associações de Mulheres Empresárias da CPLP que nos deixou o testemunho de uma carreira no apoio à mulher empresária.
Ana Bela Silva é presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Empresárias, e detém, actualmente, a presidência da Federação das Associações de Mulheres Empresárias da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Um dia-a-dia dedicado a apoiar as mulheres de negócios, nas suas mais diversas actividades, um trabalho que faz por gosto, até mesmo com amor.
A MulherPortuguesa foi ao seu encontro no seu escritório onde, numa conversa franca, ficamos a conhecer as dificuldades mas também as alegrias desta profissional.
Mulherportuguesa – Há uma necessidade de as mulheres serem ajudadas?
Ana Bela da Silva – Como qualquer empresário, as mulheres também precisam de ajuda. Quando nós pressupomos que pode haver oportunidade de negócio no exterior, que podemos ter êxito com a internacionalização da nossa empresa ou queremos ir a um outro país para ver como é que lá fazem ou comercializam um determinado produto que queremos lançar no nosso país de origem, é lógico que o apoio é fundamental.
É preciso saber com quem contactar, que empresas, que organizações, que instituições e lógicamente, se pensarmos nas pequenas empresárias, e que muitas delas nunca saíram do seu país, por vezes, nem saíram da sua região… Até aqui em Portugal! Não pensemos só em África! Tudo isto se passa aqui em Portugal e até no Brasil, a vontade de nos virarmos para fora do nosso país e das regiões onde estamos, e começarmos a ter esta ideia de vermos outras oportunidades não surge do nada.
São estágios da vida das empresas de uma delicadeza muito grande e são sempre estágios de grande risco. Se pensarmos nestes termos, podemos concluir que nestas últimas décadas as mulheres deram uma passada muito larga, mas ainda assim, é altura de nos apoiarmos, para que juntas possamos continuar este caminho.
Mulherportuguesa- Tudo isto advém de haver cada vez mais mulheres a dirigir os negócios?
ABS – É um fenómeno que se passa na Europa. Em África nem é necessário falarmos, porque existe a tradição de serem as mulheres as lutadoras, a mulher sempre foi a responsável pela subsistência da família e tinha, portanto, de desenvolver as actividades necessárias para isso.
Na Europa, começa a haver essa tradição. Foram muitos os problemas levantados com o surgimento das duas guerras mundiais e com as oportunidades então lançadas. Os níveis de desemprego começaram a subir e as mulheres foram as mais afectadas.
Das mulheres desempregadas, muitas pensaram que poderiam desenvolver um pequeno negócio, trabalhar e ter rendimentos a partir daí. É este pensamento que leva a que o emprego na Europa tenha sido assegurado, nas últimas décadas, pelas micro e pequenas-empresas. O que acontece é que quando se começa a olhar para estas empresas, constata-se que as mulheres são das maiores empregadoras.
Mulherportuguesa – Parece-lhe que as mulheres têm características próprias que lhes facilitam o sucesso nos negócios?
ABS – Claro que sim, e neste caso, também ao nível das executivas, não só das próprias empresárias mas, das executivas e das mulheres de carreira. Existem óptimas gestoras, para mim são mais líderes do que gestoras. Têm mais facilidade de liderar e de fazer com que as pessoas tenham objectivos e os cumpram e tenham satisfação no trabalho.
A mulher é muito mais pragmática, preocupa-se muito mais com o desenvolvimento das equipas e com a evolução das pessoas. De uma forma geral, a mulher tem uma ligação muito maior à envolvente da empresa onde está.
Para se afirmarem no mundo dos negócios, as mulheres têm de mostrar o que valem, têm de salientar mais as suas capacidades. Eu tenho o hábito de dizer que só há igualdade, quando tivermos tantas mulheres medíocres como homens medíocres nos mesmos lugares…até lá ainda vai ser uma caminhada longa.
Quer na Europa, quer nos Estados Unidos, a descida dos níveis de desemprego, ficou a dever-se às micro e às pequenas empresas, mais de metade das quais criadas por mulheres.
Mulherportuguesa – Qual é a sua opinião acerca das novas tecnologias que têm vindo a ser adoptadas no universo dos negócios?
ABS – Há de facto, um deficit, ou seja, se nós temos coisas boas, que ganhámos pelo desenvolvimento e pela cultura, também temos outras menos boas e uma delas é a pouca apetência que a mulher desenvolve para as questões ligadas à técnica.
Relativamente às novas tecnologias, eu acho que a mulher precisa de um esforço acrescido, em relação ao homem, para que, de facto se preocupe, entenda as potencialidades, o que é que pode retirar, e entre nos negócios de igual para igual. É um caminho que vai ser difícil para nós, quando digo difícil é apenas e provavelmente, uma questão mais relacionada com o tempo…
A rapidez da comunicação e o volume de informação disponível são dois factores que vão, por certo, interferir de forma positiva no futuro dos negócios. A mim, pessoalmente, assusta-me uma questão que está relacionada com o contacto humano, com o relacionamento inter-pessoal. Isso, parece-me que vamos perder, mas se algo se perde, com certeza algo se irá ganhar.
Mulherportuguesa- O que é que gostaria de ver num site inteiramente dedicado à mulher?
ABS – Tudo, desde empresas a serviços. Parece-me que o importante é dar visibilidade às mulheres, para que todas as outras mulheres possam pensar se elas foram até ali, eu também posso ir!
Eu penso que durante uns anos, vai ser importante que nós nos apoiemos umas às outras e que possamos constituír um Lobby que permita a consolidação das empresas e fomente o surgimento de novas empresas, novos negócios.
Mulherportuguesa – Onde é que se enquadra a família?
ABS – É difícil…é muito difícil. Eu tenho fases da minha vida em que vivo sempre angustiada por causa da minha filha. Para mim, pessoalmente, sem o apoio da família, não se chega lá.
É impensável, com filhos, alguém fazer este tipo de percurso, quer em termos das associações, quer mesmo em termos empresariais. Para mim é difícil conciliar as duas coisas, tenho momentos de uma felicidade extrema e intensa, mas tenho também imensas angustias. Acho é que é isto que faz a vida, nada é linear. O apoio da família é em termos afectivos e se eu não tivesse este apoio para mim seria muito mais complicado alcançar os meus objectivos e, no fundo, ser feliz.