Janis Joplin – a cantora branca mais negra

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Janis Joplin
Janis Joplin
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Janis Joplin ‘trocou as voltas ao rock’ e impôs um novo modelo de música a uma geração que estava sequiosa de novidade. A sua voz rouca e profunda dominou por completo audiências através da sua paixão, raiva e intensidade sexual, numa interpretação única de blues.

Janis Joplin

‘Lord, wont you buy me a Mercedes-Benz, My friends all drive Porsches, I must make amends.’ (Senhor, tens de me comprar um Mercedes-Benz. Todos os meus amigos guiam Porches, tenho de ser compensada.). ‘Lord, won’t you buy me a Mercedes-Benz, My friends all drive Porsches, I must make amends.’ (Senhor, tens de me comprar um Mercedes-Benz. Todos os meus amigos guiam Porches, tenho de ser compensada.).

A fama foi imediata quando começou como vocalista do grupo de rock ‘Big Brother and the Holding Company’ e se apresentaram, em 1967, no Festival de Pop de Monterrey.

Foi no distante dia 19 Janeiro de 1943, às 9h45, que nasceu em Port Arthur, no Texas, uma menina a quem foi dado o nome de Janis Lyn Joplin, filha de Seth e Dorothy Joplin. O pai era trabalhador da Texaco e um homem liberal e instruído e a mãe era uma mulher enérgica que trabalhava como secretária executiva. Os dois gostavam de conviver e conversar com os três filhos, as duas raparigas e um rapaz.

Quieta e obediente, Janis era uma criança aplicada nos estudos, mas detestava a pequena cidade em que vivia. E a cidade também não gostava dela. Ao atravessar a adolescência, Janis era o contrário do protótipo de uma dama do sul, que deve ser bonita, suave e quieta, ao passo que Janis ficou muito feia, com borbulhas por todo o rosto, gorda e com os cabelos ásperos. Isto levou a que fosse rejeitada pelos colegas ao que ela respondia com agressividade e maus modos.

Refugiou-se na leitura e lia tudo o que podia, demonstrando as suas ideias sempre que podia. Durante uma aula, quando tinha 12 anos, teve a ousadia de defender a integração racial numa terra absolutamente racista. A partir daí começou a ser vaiada na rua pelos colegas como ‘amante de pretos’.

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A adolescência

Aos 14 anos, como não podia comparar-se às raparigas texanas, resolveu passar a ser como os rapazes. Começou a frequentar os bares, jogar, beber e drogar-se. Aos poucos eles começaram a aceitá-la como parte integrante e foi com eles que descobriu a sua paixão pela música.

Anteriormente expressava os seus sentimentos através da pintura e estava decidida a seguir carreira nessa área, mas a música foi mais forte. E a música era o jazz e o folk. Os blues começariam a partir de 1960.

Os estudos de Janis terminam na High School e iria tentar uma carreira como estudante de arte na Universidade de Lamar, em Beaumont, cidade vizinha de Port Arthur, para além de ter tentado tirar um curso de secretariado na Universidade de Port Arthur.

Mas o rótulo de boémia já estava agarrado a ela. Continuava a ser feia e sem modos, bebendo nos bares e lutando como os rapazes, e tinha mesmo a fama de ter dormido com todos os homens disponíveis de Port Arthur e Beaumont e com algumas raparigas também, o que em parte era verdade.

O mundo dos Blues

Foi com os discos de Bessie Smith que Janis descobriu o mundo dos blues. Convencidos do dom da filha e para a afastar da cidade natal, os pais decidiram enviá-la para Los Angeles tirar um curso de Verão, onde aprendeu a ganhar a vida a cantar, mas aprendeu também a drogar-se com heroína e a traficar droga.

Até 1965 voltaria ainda mais três vezes à sua cidade natal para se estabelecer mas as marcas do seu passado eram mais fortes e não a deixaram viver em paz. Da segunda vez que voltou a Port Arthur, Janis recuperava-se de uma longa temporada de dependência de anfetaminas e procurou ajuda psiquiátrica.

Inscreveu-se na Universidade do Texas, e tentou trabalhar como empregada de mesa. Na festa de fim de curso, recebeu um título: O Homem Mais Feio do Campus. Sem se despedir de ninguém, voltou para São Francisco para cantar e encharcar-se em drogas.

Voltaria a Port Arthur, desta feita para ficar enquanto esperava pelo noivo, um homem que conhecera em São Francisco. Abandonou os colares e os jeans, a bebida e a droga, prendeu os cabelos e começou a fazer psicoterapia, chegando mesmo a pensar em deixar de cantar. O noivo nunca apareceu e mais tarde ela saberia que ele tinha fugido para o Canadá, onde era traficante de droga.

Quem veio a Port Arthur foi um outro tipo de emissário, Travis Rivers, um conhecido dos tempos de São Francisco, que trazia um convite para Janis: cantar numa banda recém-formada, a Big Brother & Holding Company e cantar a nova música que invadia as ruas, os blues eléctricos. Com o grupo, Janis voltou à bebida, às drogas e aos seus demónios e a sua voz explodiu em São Francisco.

Foi para descobrir novos talentos que o empresário Albert Grossman, o big boss de Nova York, foi a Monterey, mas só ficou impressionado com a actuação dos Big Brother quando entrou Janis, vestida de preto, sapatos de salto fino, dourados, cabelos ao vento, uma rainha cigana do século 20.

Janis agarrou o microfone, bateu os pés, gemeu, gritou, sacudiu a cabeça e incendiou o ar. Grossman viu o que estava por vir: a primeira encarnação feminina do delírio colectivo de uma geração. E a fama começou.

Tão rápido quanto esta, chegou também o declínio. Depois de várias desavenças com a banda original, Janis decidiu criar o seu grupo e surgiram os Kozmic Blues Band em 1969, mas tratou-se de um plano falhado, recebendo mesmo vaias em alguns espectáculos.

Nem a sua posição como estrela a salvou, porque como em tudo na sua vida, caia no excesso. As suas entrevistas eram cada vez mais recheadas de palavrões. Comprou um Porsche e mandou pintá-lo com todas as cores e formas do arco-íris.

Cada vez mais viciada em heroína, a solidão aumentava também. Começou a dividir a sua casa em Larkspur com raparigas e um grupo de amigos-parasitas.

Descia a Sunset Strip e convidava para a sua cama quem encontrasse no caminho. Em Janeiro de 1970 pediu ajuda médica e decidiu abandonar o vício e foi para o Brasil em Fevereiro desse ano para descansar. Voltaria com novas forças e reuniu uma banda nova, os Full Tilt Boogie Band. Mas depressa se afundaria de novo na heroína.

Na primeira semana de Outubro, Janis fez um novo testamento com algumas modificações. O sábado dessa semana passou-o a gravar os últimos temas do álbum e voltou para o hotel perto da meia-noite. Subiu para o quarto, mudou de roupa, colocando um quimono longo, cor-de-laranja, cheio de plumas e desceu para comprar um maço de cigarros.

O troco e o maço ainda estavam na mão quando a encontraram no começo da tarde de domingo, 4 de Outubro. Tinha o nariz partido e o lábio superior cortado, provavelmente da queda. Morreu pouco depois de voltar ao quarto, devido a uma dose de heroína pura que tomara pouco antes.

Mas morrera também de solidão, de desespero, um tanto de masoquismo, um tanto de revolta, uma gota de loucura. Conforme tinha pedido, o seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas na costa da Califórnia. Dela ficou a voz e o grito.

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